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Com auxílio da ciência e muita dedicação, o mercado de medicina reprodutiva evolui rapidamente e ajuda pacientes a realizarem o sonho de ter um bebê

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Ser mãe não é fácil. É um processo que envolve muito cuidado, atenção e tempo, que começa bem antes do momento em que o bebê chega ao mundo. Para algumas mães, inclusive, a maternidade pode começar antes mesmo do início da gravidez. 

Esta é a vida de quem opta por recorrer às clínicas de medicina reprodutiva, centros dedicados ao tratamento de infertilidade e que tem como missão ajudar pessoas a realizar o sonho de ter um filho. 

Desde o nascimento do primeiro bebê por fertilização in vitro, em 1978, técnicas de reprodução assistida vêm se tornando cada vez mais populares no mundo inteiro. No Brasil não é diferente e, com isso, o mercado de medicina reprodutiva no país apresenta um forte crescimento.

“Nós começamos fazendo menos de 10 ciclos de tratamentos por ano”, aponta a Dra. Mariangela Badalotti, ginecologista e sócia fundadora do centro de medicina reprodutiva Fertilitat. “Hoje fazemos mais de mil (tratamentos) por ano. Ao longo desse período, nós crescemos junto com a medicina reprodutiva”. 

A Fertilitat, clínica de Porto Alegre (RS) que completa 35 anos de história em julho deste ano, é uma das principais clínicas de medicina reprodutiva do Brasil. Segundo Mariangela, a clínica nasceu do desejo de ajudar as pessoas a realizar o sonho de ter um filho. 

A ginecologista aponta que, no mercado de medicina reprodutiva, alguns pilares precisam guiar a atuação da clínica. Para ela, a aliança entre os equipamentos de ponta e uma equipe bem treinada e engajada fazem com que o sucesso da Fertilitat seja possível. 

“Nessa trajetória de 35 anos, nós tivemos sempre como pilares a técnica, o conhecimento, a ética, o respeito e o afeto. Tratar bem, com carinho, oferecendo o melhor tratamento que a ciência pode disponibilizar para cada pessoa ou para cada casal que nos procura”, afirma. “Nossos temos muito orgulho de poder afirmar que aqui se oferece tudo que se pode fazer em qualquer lugar do mundo”. 

Sobre o desenvolvimento das novas tecnologias que surgem no mercado de medicina reprodutiva, Mariangela não esconde a empolgação. A ginecologista destaca que, para uma área recente na medicina, os resultados alcançados dentro da medicina reprodutiva são impressionantes. 

“A medicina reprodutiva, e especialmente a reprodução assistida, teve um desenvolvimento imenso nos últimos anos”, aponta. 

“Imagine que a pessoa mais velha do mundo nascida de reprodução in vitro tem 43 anos de idade. De 1978 para cá, já nasceram mais de 10 milhões de pessoas por essas técnicas, que são extremamente novas dentro da história da medicina. É uma área de crescimento galopante, pela grande quantidade de soluções que nos traz e pelas inovações que vem apresentando continuamente ao longo desses 40 anos de existência”. 

Mariangela aponta que, hoje, a Fertilitat consegue oferecer todos os tratamentos conhecidos para diversas causas de infertilidade. A fertilização in vitro, no entanto, continua sendo o tratamento mais buscado pelas pacientes da clínica. 

“A indicação de cada um dos tratamentos se baseia no motivo que está levando à dificuldade para engravidar”, aponta. “Nós temos tratamentos clínicos, tratamentos cirúrgicos e tratamentos que passam pelo laboratório de reprodução assistida”. 

A INFERTILIDADE E A BUSCA POR TRATAMENTO 

“Infertilidade é a falta de gravidez após 12 meses de relações sexuais sem uso de método contraceptivo. Essa é a definição de infertilidade, mas nem sempre baseamos o início da investigação nessa definição”, explica a ginecologista. 

Quando as mulheres têm mais de 35 anos, as investigações começam a partir dos seis meses de tentativas. Segundo ela, pode-se iniciar ainda antes uma investigação de possível infertilidade caso haja algum indício de que alguma coisa possa estar interferindo na chance de concepção. 

Mariangela explica que, generalizando, a infertilidade ocorre tanto em mulheres quanto em homens de maneira equivalente. “De modo geral, 35% das causas de infertilidade são femininas, 35% são masculinas e 20% dos casos existem fatores associados que interferem na chance de concepção”, aponta. 

Nas mulheres, as causas mais comuns de infertilidade são distúrbios na ovulação, alterações de obstrução ou comprometimento das trompas e endometriose. Entre os homens, a causa mais comum é a hipofunção testicular de causa desconhecida. Segundo ela, as questões comportamentais também influenciam muito nas chances de concepção. 

Mariangela aponta que o número de pessoas e casais em busca de tratamentos de reprodução assistida tem aumentado bastante nos últimos anos. Essa procura, segundo ela, vem porque hoje as clínicas de medicina reprodutiva têm as ferramentas necessárias para ajudar uma maior variedade de problemas que levam a infertilidade e, ainda, maior eficiência em tratamentos mais conhecidos. 

O aumento na procura também ocorre pois houve uma ‘quebra de tabu’ sobre o assunto, aponta a ginecologista. “No passado se tinha muita vergonha (da infertilidade), se tinha muito temor de exposição ao se fazer um tratamento de fertilidade”, explica. “Existem ainda fatores, como a poluição e hábitos de vida, que vêm aumentando os casos de infertilidade”. 

A ginecologista aponta que um dos principais fatores comportamentais que vem causando infertilidade é o ‘adiamento’ da maternidade. “Com o passar do tempo e com o aumento da idade, principalmente a feminina – mas também a masculina –, a gravidez acaba se tornando mais difícil”, explica. 

“Todos esses fatores levam para um aumento na busca pelos tratamentos de reprodução. E isso não é somente na nossa clínica, não só no Rio Grande do Sul ou no Brasil, essa é uma realidade a nível global”. 

Mariangela explica que dois tipos de tratamentos têm ganhado muita popularidade entre as pessoas que procuram assistência em clínicas como a Fertilitat. O congelamento de óvulos, por exemplo, é a principal alternativa para mulheres mais jovens que querem preservar a sua fertilidade para que seja mais fácil engravidar no futuro. 

“Com essa questão do adiamento da maternidade, muitas mulheres estão congelando seus óvulos em idade jovem para que possam ser mães em um período em que não conseguiriam por falta de produção de óvulos pelos seus ovários”, explica. Outro procedimento em ascensão, segundo ela, é a análise genética de embriões antes da transferência para o útero. 

“Muitos casais são indicados (a fazer a análise) pela patologia, que leva à infertilidade, ou optam pelo procedimento para buscar uma segurança maior para evitar um comprometimento do recém-nascido”, aponta a ginecologista. Ela explica que, em menor escala, também tem ocorrido um aumento na procura por procedimentos com óvulos doados. 

A fertilização in vitro é o tratamento mais procurado na Fertilitat

Além das formas de tratamentos em alta, Mariangela aponta que dois públicos têm procurado a medicina reprodutiva com maior frequência recentemente. Mulheres em busca de maternidade solo e casais LGBTQ+ têm buscado cada vez mais os procedimentos necessários para realizar o sonho de ter um bebê.

O SONHO DA MATERNIDADE 

E é no primeiro caso que se encaixa Jessica Gregis, com quem conversamos sobre o sonho de ter um bebê. Aos 41 anos de idade, a psicóloga está se preparando para fazer um procedimento de fertilização in vitro na clínica Fertilitat e realizar o sonho de ser mãe. 

Jessica conta que chegou à clínica, onde é atendida pela médica Rafaella Petracco, após não se sentir acolhida pela sua então ginecologista de longa data. “A primeira vez que conversei com minha então ginecologista sobre o interesse em congelar meus óvulos estava com 37 anos e, para minha surpresa, ela me respondeu que estava cedo ainda e que poderia deixar para mais perto dos 40”, aponta. 

Em uma consulta com outra especialista, foi questionada sobre sua reserva ovariana e se já havia feito algum tipo de avaliação sobre sua fertilidade. Ali, ela entendeu que era necessário iniciar o processo clínico e buscar respostas para usa maior preocupação na época: se ainda estava produzindo óvulos saudáveis. 

Jessica chegou até a Fertilitat a partir da indicação de uma amiga que já havia feito o congelamento de óvulos com a clínica. Sua primeira visita ocorreu em 2019, com o objetivo inicial de buscar uma avaliação da sua fertilidade e informações sobre o processe de congelamento de óvulos. 

Com o início da pandemia de Covid-19 e problemas de saúde na família, a psicóloga só conseguiu realizar o procedimento de estimulação ovariana um ano após seu primeiro contato com o centro de medicina reprodutiva. 

“Nunca tentei engravidar de fato apesar de sempre ter tido o desejo da maternidade”, afirma ela, que por um tempo havia considerado a adoção como forma de realizar esse sonho. “Foi somente a partir de um sonho cheio de significados para mim que tive a certeza de que tinha chego meu momento e devia isso a mim mesma”. 

O sonho gerou um sentimento de angústia, que ajudou Jessica a se sentir ainda mais determinada a realizar o desejo de ser mãe mesmo com a pandemia, doença na família e de fazer o processo de forma solo. “Essas vivências só serviram para me lembrar que a vida é hoje e temos o dever de ir em busca da realização dos nossos desejos mais íntimos, independente de opiniões alheia e estado civil”. 

Segundo Jessica, a decisão de procurar o procedimento de congelamento dos óvulos foi tomada com o objetivo de garantir sua independência na busca pelo seu sonho de ser mãe. “Senti a necessidade de avaliar a urgência de fazer o congelamento e posteriormente utilizá-los caso fosse necessário”, aponta. 

“Eu tinha certeza de que queria ser mãe independente da minha realidade sobre relacionamento amoroso”. 

Jessica admite que ir atrás de seu sonho por conta própria não foi fácil, mas que o apoio recebido por sua ginecologista foi essencial para se manter determinada. “Me senti privilegiada em todo processo pelo atendimento e acolhimento recebido, tanto pela clínica Fertilitat quanto pela minha médica – Dra. Rafaella Petracco. A conexão foi instantânea”, aponta. 

“A primeira vez que me dei conta que estava ali naquela sala de espera ‘sozinha’, sem parceiro, foi de certa forma impactante. Meus olhos encheram de lágrimas, mas neste momento a médica entrou em ação e me afirmou ‘tu não estás sozinha, estou contigo e vai dar certo, tenho certeza’”, relata. 

“A partir daquele dia fui tomada por um orgulho de mim mesma pela minha coragem, determinação e por não abrir mão da minha maternidade independente de qualquer variável que a vida me apresentava”. 

O psicológico, segundo a Dra. Mariangela Badalotti, é um grande ponto de atenção para todos os funcionários da clínica. Isso porque a vida de ‘tentante’ – como são chamadas as pessoas que estão tentando engravidar – é muito desgastante física e mentalmente. 

“A vida de tentante é muito desgastante. E ela se torna ainda mais desgastante se a vida ficar reduzida a isso, a ser tentante, então o nosso papel (também) é fazer essas mulheres entenderem que elas são muito mais do que apenas tentantes”, explica a ginecologista. “Por isso apoio emocional é fundamental e por isso nós disponibilizamos atendimento psicológico para pacientes da clínica. Esse reforço auxilia, e muito, na busca do objetivo que é o bebê”. 

Para Jessica, passar pelo tratamento com o centro de medicina reprodutiva foi uma experiência de aprendizado sobre si mesma. Segundo ela, crescimento e orgulho são as duas palavras que melhor definem o momento da que está vivendo hoje. 

“Tomar essa decisão da maternidade independente despertou em mim muitos sentimentos positivos que contribuíram diretamente no sucesso do processo e no fortalecimento da minha autoestima como mulher por saber que meu corpo estava saudável – muito fértil, apesar da idade –, reconhecimento e fortalecimento das minhas capacidades internas, investimento nos meus sonhos, aprendizados”, aponta. “Ajudou até mesmo no campo de planejamento financeiro, me ensinando que – quando temos prioridades – ajustes são fundamentais no dia a dia”. 


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OS CUSTOS 

Os custos de um tratamento completo são subjetivos à realidade de cada paciente e o tratamento necessário para cada caso. A forma como cada corpo reage aos tratamentos também influencia diretamente na possibilidade de prolongamento e, consequentemente, custo do mesmo. 

Segundo Mariangela, os custos variam muito. “Os custos variam enormemente, desde uma indução da ovulação em mulheres com distúrbios ovulatórios, um tratamento de baixíssimo custo, passando por tratamentos cirúrgicos – muitos cobertos por convênios”, explica. “A inseminação artificial já tem um custo intermediário e a fertilização in vitro é um procedimento com custo mais elevado, mas com chance de sucesso muito maior”. 

No caso da fertilização in vitro, o custo depende ainda da complexidade do caso de cada paciente. Alguns casos específicos dependem de procedimentos mais delicados e custosos para conseguir fazer com que a operação seja feita com sucesso. “Os custos variam de mil até mais de vinte mil reais, dependendo da causa da infertilidade – que determina a técnica e o tratamento propostos aos pacientes”, contextualiza a ginecologista. 

“Com certeza é um valor significativo a ser investido” aponta Jessica. Ela destaca ainda que, atualmente, nenhum plano de saúde cobre os procedimentos necessários para o seu tratamento em específico. Por ser uma profissional autônoma, a psicóloga afirma que foi necessária uma organização prévia para conseguir seguir adiante com seu sonho. 

“Essa questão, na minha opinião, é bem subjetiva porque diz respeito a realidade de vida de cada pessoa, sonhos, desejos,” afirma. “Somente a pessoa/família que opta ou necessita deste procedimento sabe o significado e a importância dele, é algo muito além de uma quantia em dinheiro. Como era um desejo meu de anos, fui reservando mensalmente o que era viável e no momento de iniciar já tinha o valor praticamente todo “. 

Jessica conta que sua fertilização in vitro está projetada para acontecer no ano que vem. Como irá utilizar banco de sêmen, terá também um investimento extra. Por fim, ela lembra da anuidade para manter o material congelado até a utilização ou não. 

“Se me perguntarem se me arrependo do valor investido, minha resposta será sempre foi um dos melhores investimentos que já fiz em mim mesma. Vai muito além de dinheiro que coloquei no processo, depositei minha energia, esperança e amor no que tenho de mais valioso: a vida”, aponta a psicóloga, que não esconde o entusiasmo e a ansiedade para realizar o sonho de ser mãe. “Que venha a fertilização!”

Guilherme Guerreiro

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