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Como o ‘rombo’ das Americanas movimentou o mercado nesta quinta? 

5 Minutos de leitura

As Americanas (AMER3) reportaram ontem (11) que a empresa possui ‘inconsistências contábeis’ de aproximadamente R$ 20 bilhões. No mesmo documento, a companhia anunciou a renúncia do presidente Sergio Rial e do diretor de relações com investidores André Covre – ambos empossados no dia 2 de janeiro deste ano. 

O documento pegou o mercado de surpresa e pressiona a Bolsa, com o Ibovespa operando na contramão dos seus principais pares internacionais hoje devido ao cenário doméstico. Em pronunciamento ao mercado na manhã de hoje (12), Sergio Rial afirma que o problema não se limita ao ano de 2022 e ainda indicou que a Americanas pode não ser um caso isolado. 

Neste conteúdo exclusivo da Smart Money, vamos te explicar o que aconteceu com a Americanas e como o fato relevante da empresa impactou o mercado de ações brasileiro nesta quinta-feira. 

O que aconteceu? 

De acordo com o economista-chefe da Messem Investimentos Gustavo Bertotti, as operações em si feitas pela companhia são normais no mercado. O problema, no entanto, está na falha ou ausência de discriminação destas dívidas. 

Quando uma empresa tem alto nível de endividamento, Bertotti explica, os fornecedores podem ser mais resistentes a financiar a matéria prima. Desta forma, companhias – como no caso da Americanas – recorrem ao setor bancário para financiar estas operações. 

“Essa operação que não está contabilizada, e não temos certeza porque o comunicado da empresa não deixa claro, são dívidas que estavam em fornecedores, mas que não foram tomadas com fornecedores”, aponta o especialista. “Na verdade, elas foram tomadas com um banco, que está no meio deste negócio (entre empresa e fornecedor). O banco cobra um spread da empresa e repassa o pagamento ao fornecedor”. 

O que ocorre no caso da Americanas é que estas dívidas, que são de fato com as instituições bancárias, foram reportadas como dívidas com os fornecedores em balanços da empresa. Segundo informado, essas irregularidades aconteceram ao longo dos últimos anos, podendo se estender por mais de quatro anos, segundo a companhia. 

Ainda não se sabe quais os principais bancos financiadores das operações que ficaram irregulares nos balanços da Americanas.


Saiba mais 

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Como ficam as ações das Americanas? 

No pregão de hoje da Bolsa, as ações da Americanas foram – com muita sobra – os papéis que mais perderam valor de mercado. A B3 liberou, inclusive, um limite de baixa de até 99% para as ações da companhia no dia de hoje devido à grande desvalorização da empresa no mercado. 

Às 17h (horário de Brasília), os papéis AMER3 estavam em queda de 76,00% e negociados a R$ 2,88. As ações da empresa entraram em leilão múltiplas vezes ao longo do dia e chegaram a cair mais de 90% na mínima desta quinta. 

O estrategista-chefe da SaraInvest e co-fundador da BM&C News, Marco Saravalle, destaca que o valor do rombo assusta o mercado, principalmente na comparação com o valor de mercado total da companhia. 

“A inconsistência foi na ordem de R$ 20 bilhões para uma empresa que valia no mercado ontem R$ 11 bilhões”, aponta. “Precisamos entender como isso pode em algum momento impactar a companhia, a alavancagem, em algum momento a lucratividade e consequentemente o patrimônio da empresa. Por isso o mercado vem penalizando tanto e por isso muitos gestores de fundo decidiram diminuir ou zerar suas posições no papel (AMER3)”. 

O analista aponta que, para o acionista minoritário, a única decisão que resta no momento é de aceitar o prejuízo e diminuir a posição ou de manter a posição para esperar uma recuperação do papel. Para Marco, a situação que mais intriga o mercado hoje é com os credores da empresa e o que os mesmos farão a seguir. 

Marco destaca que a governança corporativa da Americanas fica em cheque com o rombo nos balanços da companhia. Para ele, eventos como as irregularidades nos balanços da varejista são histórias que ‘machucam’ o mercado brasileiro. 

“São histórias que acabam machucando o mercado de capitais. Nós, analistas e pessoas físicas, temos sempre que contar com a boa fé e com estas informações que são públicas e auditadas (para investir)”, aponta o analista. “Mas, infelizmente, casos como esse voltam a se repetir – no Brasil e no mundo”. 

Marco aponta que se alimenta, inevitavelmente, o nível de desconfiança com as agências de auditoria. O analista usa como exemplo o caso das agências de risco e como as mesmas perderam credibilidade no mercado por conta da crise financeira iniciada em 2007. 

Como impacta o setor de varejo e a Bolsa? 

O setor de varejo já se encontra fragilidade no Brasil. Com um cenário de Selic em alta, com crédito mais caro no país, o setor vinha perdendo receita ao longo de 2022. 

2023 não trouxe alívio para o mercado. O setor de varejo é um dos mais diretamente impactados pelos juros no país, que influenciam diretamente no poder de compra dos consumidores e consequentemente no volume de vendas no setor. 

Os juros futuros voltaram a subir e o mercado já vê como improvável uma queda da Selic no primeiro semestre de 2023, um movimento antes projetado para acontecer até mesmo nos primeiros três meses do ano. 

“Esse início de ano começou extremamente conturbado. Há falta de clareza na questão fiscal por parte do novo governo, muito ruído político com tudo que está acontecendo e a falta de um plano econômico concreto”, explica Gustavo. tudo isso vem pesando muito contra o setor (do varejo). 

A indicação de que essas inconsistências podem ocorrer em outras empresas do setor de varejo também ajudou a impactar o setor, que tem algumas empresas entre as principais quedas do dia no mercado. Adicionalmente, setores ligados ao varejo também podem sair no prejuízo. 

“Você vê hoje uma correção muito forte no setor de varejo. Méliuz, Via, Multiplan e Natura, empresas do varejo ou muito ligadas ao setor, estão entre as maiores baixas do dia”, explica. “Ao mesmo tempo, bancos também são prejudicados. 

No pregão de hoje, Gustavo aponta que os bancos BTG Pactual e Santander se destacaram entre as quedas. Um movimento influenciado pelo alto nível de envolvimento de ambos com o setor varejista. A adquirente Cielo (CIEL3) também figura entre as maiores quedas do dia.


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Guilherme Guerreiro

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