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Fala dovish de Powell não fez bem ao mercado, aponta economista 

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Com o anúncio da nova taxa de juros nos Estados Unidos nesta quarta-feira (04), os mercados internacionais viveram um pequeno rali. Com o discurso dovish de Jerome Powell, descartando um aumento de 0,75 ponto percentual na reunião de julho do Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC), o mercado se animou com a perspectiva de um aperto monetário menos acelerado.


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Por que os juros estão subindo?


No entanto, o dia seguinte não foi exatamente como esperado. Por aqui, o Ibovespa caiu 2,81% nesta quinta-feira (05), indo aos 105.304 pontos, chegando a zerar os ganhos acumulados de 2022 no seu pior momento do dia. Enquanto isso, os principais índices de Wall Street viveram seu pior dia desde 2020, com o Nasdaq Composto caindo 4,99% ao longo da sessão. 

Para muitos, o ‘rebote’ das bolsas causou estranheza. O rendimento atrativo de títulos públicos com os juros renovados sozinho não consegue explicar o tamanho dos tombos que as bolsas sofreram mundo afora. Mas então, o que causa esse movimento de baixa generalizada? 

Segundo o economista Gustavo Bertotti, especialista em renda variável na Messem Investimentos, fechar as portas para um aperto monetário mais acelerado não parece o movimento mais apropriado por parte do Federal Reserve. Para ele, o movimento de baixa vem após o mercado digerir de forma mais definitiva o discurso do presidente do banco central norte-americano. 

“O discurso dele (Powell) não foi legal”, apontou o economista. “Ele amenizou o mercado, isso resultou em um rali no final do pregão porque ele trouxe um tom muito dovish em relação a política monetária, aumentou em 0,5 (p.p.) mas fechou a porta para um aumento de 0,75 (p.p) em junho. A inflação está muito forte a nível global e talvez ele tivesse que deixar a porta aberta para um aumento de juros maior em junho”. 

Segundo ele, boa parte dos analistas de mercado trabalhavam com a hipótese de um aumento mais significativo nos juros norte-americanos. O rali da segunda metade de pregão de quarta acabou, portanto, não se pagando. “Promoveu um rali, mas o mercado assimilou a realidade, ou seja, entendendo que a inflação é persistente, que pode ganhar mais força com guerra, com China e com desaceleração econômica. A fala dele não foi de acordo com o que a gente está vendo no mundo”, explica Gustavo. 

Para o economista, um discurso menos dovish por parte de Jerome Powell poderia não ter causado o mesmo rali na segunda metade da quarta-feira. Mas, em contraponto, o movimento de ‘rebote’ das bolsas mundiais talvez não aconteceria nesta magnitude que estamos vendo. 

Além das fortes quedas de ontem, o mercado amanheceu também em baixa nesta sexta-feira. Às 10h58 (horário de Brasília) de hoje, o Ibovespa operava em queda de 0,69%, seguindo o movimento dos mercados de Wall Street, onde os três principais índices do mercado norte-americano – Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq Composto – operam com fortes prejuízos. O clima de incerteza, como define Gustavo, deve predominar ao longo do dia. 

Para Gustavo, os dados de hoje do payroll, que mostra a geração de empregos nos EUA, corroboram com a visão de que o Fed deveria considerar um maior aperto monetário. A geração de empregos no país surpreendeu positivamente, ficando acima do projetado pelo mercado. Os 428 mil empregos gerados em abril mostram que o mercado de trabalho e a economia norte-americana estão aquecidos, mas também destacam a necessidade do Fed combater a inflação de forma mais assertiva. 

Por aqui, o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu também na quarta pela elevação da taxa Selic para 12,75% ao ano. No comunicado, o Banco Central (BC) apontou que um novo aumento, de menor magnitude, é esperado para sua reunião de junho. Para Gustavo, o Copom agiu de maneira correta e coerente com a realidade. 

“Eu acho que (o Copom) agiu certo”, aponta o especialista. Segundo ele, o mercado já precificava um aumento de 1 p.p. na Selic em maio e falas de Roberto Campos Neto, presidente do BC, já indicavam que o Copom poderia deixar um aumento ‘residual’ nos juros para ser feito na reunião de junho. 

Por esse motivo, Gustavo atribui esse movimento de queda principalmente ao Federal Reserve. Mas o economista aponta que o banco central norte-americano não é o único atrasado no movimento de aperto financeiro para combater a escalada da inflação. 

“Os Estados Unidos estão muito atrasados na retirada de estímulos, ele (o Fed) veio com um tom muito suave, muito tranquilo, para uma realidade que não é essa passada”, explica. “A Europa está extremamente atrasada na questão da retirada de estímulos e ainda assim querendo impor mais sanções”. 

O fim da compra de petróleo russo até o final do ano por parte da União Europeia (UE), um plano apresentado nesta semana pela Comissão Europeia, também ajuda a colocar asteriscos nos planos de recuperação econômica global. 

“É uma aversão ao risco global, mas parte muito do Fed”, aponta Gustavo. “A questão da União Europeia (e o embargo ao petróleo russo), é o que faz o barril de petróleo ganhar força novamente, existe ainda a questão do conflito na Ucrânia que parece longe de estar no fim, commodities e tudo que está ligado a energia vai continuar valorizado e o Brasil está muito atrelado ao (mercado) internacional”, explica. 

Da China, a expectativa do mercado financeiro está voltada para o aguardado plano de estímulo a infraestrutura e a situação da pandemia de Covid-19. O crescimento econômico da potência asiática preocupa, com medidas de lockdown no país deixando o mercado em alerta nos últimos 20 dias. 

Imagem em destaque: Yahoo / divulgação 

Guilherme Guerreiro

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