Entrevistas

Início promissor, crise de 2008, reconstrução e o lançamento da marca própria: há 15 anos, nascia a Messem Investimentos

10 Minutos de leitura

Mais de R$ 20 bilhões sob custódia, três vezes eleito o melhor escritório do Brasil e atualmente no topo do G20 da XP Investimentos. Em 2022, a Messem Investimentos faz 15 anos e, em comemoração, a empresa se ofereceu para – junto da Smart Money – contar a história do mercado financeiro de 2007 pra cá. 

Ao longo de 2022, você vai conferir aqui no nosso portal uma série de conteúdos especiais que contam a história do maior escritório de investimentos da XP no Brasil. Para o nosso primeiro conteúdo em parceria com a Messem, sentamos* para conversar com William Teixeira, head da área de Renda Variável da Messem Investimentos.

William Teixeira, sócio e head da área de Renda Variável da Messem Investimentos

No escritório desde agosto de 2007, ‘Lico’ – como é conhecido – compartilhou com a gente detalhes sobre o início da trajetória dele e da Messem no mercado financeiro, falando desde a fase inicial da empresa como filial da XP Investimentos em Caxias do Sul até o lançamento da marca Messem alguns anos depois.

2007 – BRASIL EM ALTA, MAS SINAIS DE CRISE NO HORIZONTE 

Para entender o contexto em que a Messem foi inserida, é crucial entendermos o momento que vivia o mercado financeiro brasileiro em março de 2007, mês em que a empresa foi fundada como filial – e não como escritório autônomo – da XP em Caxias do Sul (RS). “A XP deu infraestrutura, fez todo o processo de montagem do escritório e a gente começou a operar como XP Investimentos”, recorda o head de renda variável da Messem Investimentos. 

Lico aponta que, na época, falar de investimentos no Brasil era basicamente falar de mercado de ações. Ainda que fosse um momento de muito crescimento da Bolsa e com muitos IPOs, foram 64 empresas abrindo capital na B3 apenas em 2007, o número de investidores pessoa física na B3 ainda era muito baixo. 

Na época, a B3 tinha aproximadamente 450 mil investidores pessoa física com contas abertas. Hoje, a Bolsa já ultrapassou a marca dos 5 milhões de investidores. Com um portfólio limitado a um único setor do mercado, na época com baixíssima adesão, não é difícil entender que fazer um escritório de investimentos dar certo não seria um desafio qualquer. “Era impossível esse negócio dar certo”, recorda com bom humor. 

“(A corretora) só tinha um tipo de investimento, que era investimento de risco, bolsa de valores. Não tinha, por exemplo, CDB, investimentos que trouxessem mais conforto e segurança para o investidor”, lembra Lico. Divulgar educação financeira, dentro desse contexto, foi uma estratégia que ajudou a impulsionar os negócios. 

“A gente era muito jovem, dentro de um mercado que tinha 450 mil investidores, em uma cidade do interior do Rio Grande do Sul. Então a gente estava levando um produto que o investidor não conhecia para um público bem fechado e com histórico de investimento em banco”, explica. 

“A ideia de não divulgar a corretora e divulgar cursos funcionava muito bem, porque todo mundo tinha curiosidade de saber como funciona a Bolsa. Se você convidasse o cliente para investir em Bolsa, dificilmente teria adesão, mas convidar ele para conhecer e aprender gerava bastante interesse”. 

Apesar dos números baixos para o padrão atual, é importante pontuar que o momento para Bolsa, e para a economia brasileira, era ótimo em 2007. O mercado de ações brasileiro teve um ‘boom’ entre 2002 e 2007, como recorda Lico e, apenas entre 2006 e 2007, o número de investidores na Bolsa mais do que dobrou. 

Ao fim de 2007, o Ibovespa havia registrado um aumento de 43,7%, atingindo 63.886 pontos. Era a quinta alta anual consecutiva da Bolsa brasileira. O Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro cresceu 6,1% em 2007, com R$ 2,661 trilhões em valores recorrentes, impulsionado por bons resultados nos serviços e desempenho da indústria. Era o maior crescimento econômico desde 1986. 

Na economia brasileira, 2007 também foi um ano marcado pelo fim da Contribuição Provisória sobre a Movimentação Financeira (CPMF), extinta após 11 anos em vigor quando um pedido de prorrogação do tributo foi derrubado no Congresso Nacional. 

Mesmo com os bons resultados, o ano terminava com um gosto amargo na boca e um mercado preocupado com o setor imobiliário dos Estados Unidos. Os efeitos globais demoraram a aparecer, mas já no primeiro semestre de 2007 alguns bancos norte-americanos especializados no mercado de hipotecas via subprime começaram a quebrar. 

Até mesmo em fevereiro daquele ano, o HSBC já anunciava que as perdas nas carteiras de dívida hipotecária seriam mais graves que o esperado anteriormente. A New Century Financial, gestora de fundos de hipoteca, faliu em abril de 2007. 

A CRISE 

O primeiro grande banco a apresentar problemas foi o Bear Stearns, quando anunciou em julho de 2007 que seus hedge funds envolvidos em créditos subprime estavam em uma situação complicada. Em março de 2008, já de olho no mercado imobiliário em crise, o JP Morgan Chase fecha a compra do Bear Sterns por um valor dez vezes menor que sua capitalização de mercado.

Mas como o mercado imobiliário norte-americano chegou nessa situação? De forma resumida, a bolha imobiliária foi consequência direta da concessão descontrolada de empréstimos de altíssimo risco, além de estratégias fraudulentas na avaliação de risco dos títulos lastreados em hipotecas subprime chamados de “podres”, que eram classificados como AAA por agências como a Standard & Poor’s. 

Linhas de concessão de crédito levam em consideração o risco porque os níveis de inadimplência, por exemplo, caso subam de maneira desenfreada, podem provocar crises financeiras intensas. No caso da crise dos subprime, esses títulos podres, com níveis de inadimplência que só subiam e eram considerados arriscados, eram negociados juntos em uma estratégia de securitização dos bancos.  

A fraude, neste caso, estava nas agências de avaliação de risco que ignoravam que esses títulos negociáveis eram, essencialmente, formados de créditos podres, e os classificavam como seguros (AAA). Para se ter ideia do tamanho do problema, AAA era uma classificação que se dava para títulos tão seguros quanto os do Tesouro dos EUA. 

O resultado disso foi um efeito dominó que acarretou a pior crise financeira desde 1929, ano da Grande Depressão, causando insolvência de vários bancos. 

Aqui no Brasil, a crise teve um grande impacto no mercado acionário brasileiro a partir de maio de 2008. “A gente viu nossos principais ativos, que até então eram muito confortáveis de se investir – grandes bancos, Petrobras, Vale, empresas gigantescas –, tendo sérios problemas e desvalorizações absurdas, recorda. 

O período da crise financeira foi, segundo Lico, de muita dificuldade. Em 80 dias, a Bolsa caiu cerca de 60%. “O problema desse movimento é que a gente fica esperando um momento de reversão, uma reviravolta, e ele não vem. Os papeis caíam 20% em um dia, todo mundo pensava ‘tudo bem, amanhã vai ser melhor’ e no outro dia a Bolsa caía de novo”. 

No dia 15 de setembro de 2008, a falência do banco Lehman Brothers – um dos gigantes do mercado financeiro dos Estados Unidos – foi um dos eventos mais influentes da história do mercado financeiro. O dia ficou conhecido como a ‘Segunda-Feira Negra’ no mundo dos negócios.

A falência do Lehman Brothers, fundado em 1850, foi o momento mais marcante da crise (Imagem: IstoÉ / divulgação)

No mesmo dia, o Ibovespa derretia 7,59%, a maior queda diária desde o ataque às Torres Gêmeas de 2001. Na semana anterior, o Banco Central (BC) já havia aumentado a Selic de 13% para 13,75% a.a. alegando um cenário de risco global.  

Ao término de 2008, o Ibovespa havia acumulado uma queda de 41,22%, com alta de 31% no dólar na mesma medida em que o capital externo saía do Brasil por conta da crise. 

Proteger o patrimônio era um grande desafio na época. Não existiam ferramentas sofisticadas a disposição para proteger a carteira dos investidores e, em um contexto em que ações eram os únicos produtos ofertados aos clientes, não existiam muitas opções. “Proteger (a carteira) era zerar toda a posição esperar as coisas melhorarem”, recorda Lico. 

A crise iniciada em 2008 deixou sequelas econômicas profundas em todo o mundo e serve de aprendizado para compreendermos como sistemas fraudulentos e complexos podem resultar em severas consequências.


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APÓS A CRISE, UMA COMPLETA REINVENÇÃO DO MERCADO 

Embora muitos digam que a crise não atingiu o Brasil de maneira tão intensa, o sentimento dos investidores com o mercado financeiro foi duramente prejudicado. Com quedas seguidas, muitos preferiram zerar suas posições em ações e esse momento forçou uma grande reinvenção no mercado de investimentos brasileiros. 

A própria Bolsa de Valores evoluiu para dar mais agilidade e segurança aos investidores. Iniciada em 2008, a implementação do PUMA trading system na BM&FBovespa (B3 hoje em dia) melhorou todo o sistema eletrônico da Bolsa de Valores brasileira, substituindo a logística anterior que dependia de quatro sistemas diferentes. 

Foi nessa época que a XP Investimentos começou a olhar para algumas referências no mercado estrangeiro e, nos anos seguintes à crise financeira, o movimento de desbancarização no mercado financeiro brasileiro começou a ganhar tração. A solução, recorda Lico, era começar a ‘abraçar’ todos os investimentos do cliente. 

“Eu só tenho ações pra vender e ninguém quer comprar ações, eu vou quebrar”, relembra o head de renda variável da Messem. “Vamos olhar pra fora, essa crise não é só aqui, está acontecendo lá fora também, todas as corretoras lá fora vão quebrar? Vamos tentar entender”, contextualiza. 

“Eles (no exterior) conseguem oferecer fundos, previdência, renda fixa, ou seja, não só o dinheirinho da pinga – de correr risco. O dinheiro que ele está guardando pra comprar um imóvel, o dinheiro que está guardando pra aposentadoria, a gente deveria ter isso dentro de casa”, aponta. 

O desafio, no entanto, era conseguir fazer com que esse investidor voltasse a investir com as corretoras. O investidor, afinal, inevitavelmente relacionou a XP e as demais corretoras com o prejuízo que ele sofreu durante a crise. 

“Esse cara acabou de perder metade do dinheirinho da pinga aqui. Como a gente vai convencer esse cara que, agora, a gente vai fazer outra coisa e ele tem que trazer mais dinheiro pra cá? Ele ouvia falar de XP e ele atribuía a perda que ele teve em 2008”, aponta. Foi também nesse momento em que a rivalidade entre corretoras e bancos começou a se acirrar mais. 

“O cliente tirava o dinheiro do banco para levar até a corretora para operações (geralmente de Bolsa). O gerente do banco não incomodava com isso, não tinha essa rivalidade. Agora, quando a gente começou a ligar pro cliente e dizer ‘traz teu CDB, traz tua previdência pra cá que a gente vai cuidar junto contigo’, aí o banco se incomodou”, relembra. Para Lico, os bancos ‘acordaram’ quando as corretoras começaram a contratar gerentes de banco, que passaram a migrar para as novas instituições financeiras. 

A desconfiança do investidor por conta dos prejuízos de 2008 e a rivalidade contra instituições mais tradicionais – algumas até mesmo centenárias – fizeram com que esse momento de reconstrução fosse, segundo Lico, ainda mais difícil do que o momento de construção. 

Com uma plataforma mais robusta e com os resultados voltando a aparecer, o momento era novamente de apostar na educação do cliente para conseguir crescer e para convencer os clientes mais fiéis a trazer mais do que o ‘dinheirinho de pinga’. “A gente batia muito na tecla dos fundos”, aponta. 

“O de um determinado banco tinha 5% de taxa de administração e pagava CDI. O cliente tinha um rendimento de 10% ao ano, pagava 5% de administração e eles sorteavam um carro, lembro que essa era a grande sacada”, relembra. “De novo por meio da educação, a gente fazia palestra toda semana, duas ou três vezes por semana, e mostrava pro cliente que – colocando R$ 500 mil no tal fundo – no final do ano ele poderia ter comprado o carro com o que ele deixou de ganhar (por conta da taxa de administração)”. 

Em 2011, a XP mudou o modelo de vínculo dos escritórios e dos assessores com a corretora, um movimento que fez com que os AAIs desenvolvessem suas próprias marcas. O nome Messem nasce no ano de 2012, depois de um rebranding do escritório. 

“Um nome com fundamento, Messem é legal porque significa colheita, tem tudo a ver com os nossos objetivos”. 2012 também foi ano do primeiro grande milestone da Messem como agente autônomo, quando a empresa atingiu R$ 100 milhões sob custódia. 

Lico também recorda de outro marco importante daqueles primeiros momentos já como Messem: o programa Everest da XP. A corretora enviou equipes para os escritórios de assessoria para ambientar os profissionais ao mercado da área, uma vez que muitos não estavam habituados com a assessoria no modelo de agente autônomo. 

“Esse momento foi bem importante na nossa história porque foi onde nasceu nossa área de Renda Variável”, aponta. Com o movimento de gerentes de banco se tornando AAIs e trazendo para a empresa seus clientes, a parte de relacionamento do negócio estava a todo vapor. Para acompanhar o crescimento da base de clientes e otimizar o atendimento, formou-se uma equipe dedicada a operar na Bolsa. 

Não existia em 2012 a plataforma online, não existia mobile. Existia o home broker, e o cliente não gostava de operar por ele. Até porque operar pelo home broker e pela mesa (da Bolsa) tinham o mesmo preço, então ligar para o assessor era mais vantajoso, até porque se tivesse algum erro não era dele”, aponta Lico. 

O problema, segundo ele, era o que acontecia nos momentos em que o assessor não se encontrava no escritório, seja para um intervalo de almoço ou para uma reunião com outro cliente, por exemplo. O assessor, então, precisava voltar até o escritório para conseguir executar uma operação. 

“E se a gente pudesse ter uma equipe aqui que fosse dedicada a atender o telefone e executar as ordens?”, lembra. O resultado foi a criação de uma área formada apenas por especialistas em renda variável e operadores de mesa, sempre de prontidão para atender as demandas relacionadas à Bolsa dos clientes, dando mais conforto aos assessores e oferecendo ainda mais agilidade para os clientes nas operações.

“A gente levou isso pros assessores como uma coisa boa. Eles iriam ter que pagar um pedaço dessa receita pra gente, mas é uma receita que não aconteceria (sem a área). Em pouco tempo todo mundo começou a fazer mais resultado”, aponta. 

O resto é história. Hoje, como você já leu no início do texto, o escritório já conta com mais de R$ 20 bilhões e está no topo do G20, ranking dos maiores escritórios da XP. 

*Texto feito em conjunto com Juan Tasso, jornalista da Smart Money 

Guilherme Guerreiro

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