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Para Antônio Da Luz, o agronegócio brasileiro é “viciado em tecnologia”

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Todo brasileiro conhece o setor do agronegócio. É a cama que sustenta a cadeia produtiva alimentícia da nação e enche as mesas dos brasileiros e de todos os continentes que o país exporta. 

Tudo isso graças a um processo que é tão antigo quanto a humanidade em si: o plantio, a colheita e o uso do gado para a subsistência. 

O Brasil é conhecido como o “celeiro do mundo”, e não é por acaso. De acordo com dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA), o agro representou 26,5% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro em 2020, ou seja, R$ 2 trilhões em valores monetários. 

É uma fatia surpreendente considerando que, em 1970, a participação era de 7,5%. Até mesmo em 2019, o agronegócio representou 20,5% do crescimento do país. É seguro dizer, portanto, que o agro do país é um setor em expansão. 

“Quando olhamos o fluxo de caixa descontado do agronegócio, não tenho dúvida que é um dos setores mais promissores que temos, e não é em demérito dos demais. O mundo vive um ciclo que faz sentido para o agronegócio”, diz Antônio da Luz, economista-chefe da Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul) e CEO da Agromoney, empresa especializada em assessoria para o agronegócio. 

“O agro brasileiro não só vem expandindo com muita força como tem uma perspectiva futura muito grande”, diz ele. “É o Brasil que dá certo, que funciona”. 

O crescimento exponencial do agronegócio não beneficia apenas o produtor e o consumidor final, mas todos os processos que possibilitam que um setor altamente inovativo consiga chegar na mesa de todos os brasileiros. 

“Quando a agropecuária cresce, ela não cresce sozinha, mas junto à indústria, serviços”, diz Antônio. “A agropecuária não se faz sem fertilizantes, sem agroquímicos, máquinas, peças, economistas, engenheiros, jornalistas, enfim. Hoje, o agronegócio é multidisciplinar”. 


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É graças a esse crescimento e investimento em inovações que o agro brasileiro é cada vez mais importante no cenário internacional. Apenas em agosto de 2021, as exportações atingiram US$ 10,9 bilhões, crescimento de 26,7% na comparação com o mesmo mês do ano passado. 

“Vendemos para 190 países. Nossos produtos chegam na mesa de 1,6 bilhão de pessoas no mundo”, ressalta Antônio. 

Embora seja um setor histórico e que só cresce nos últimos anos, o agronegócio não é sinônimo de estagnação. Atualmente, é uma das áreas que mais moderniza processos, aplica tecnologias e melhora a cadeira produtiva. 

Segundo Antônio, “existem vários casos de economias de 80%, 85%, no custo de produção”. 

São essas novas tecnologias que fazem do agro um polo da comunicação e um setor de ponta na análise de dados brutos. Além de aprimorar a produção, ajuda a conservar o meio ambiente, assunto cada vez mais importante entre os produtores do país. 

“O agricultor brasileiro sabe que se ele não respeitar o meio ambiente, ele será amplamente prejudicado. A natureza devolve o amor que tu dás a ela”, diz Antônio. “Estão surgindo muitas tecnologias para a melhoria da produtividade, como o uso de pesticidas e biofertilizantes com técnicas menos invasivas, e o uso racional, que diminui o custo por hectare. Com a tecnologia, estamos conseguindo monitorar todas essas coisas por satélites e drones”. 

A distância é um grande fator do agronegócio. Diferentes de hubs de fintechs que marcam as grandes capitais, como São Paulo, o agro brasileiro é semeado em todo o território nacional. Com a modernização dos processos, um produtor no norte do país do país sabe tudo o que acontece com o campo do sul. 

Além de melhorarem toda a cadeia produtiva, as novas tecnologias também permitem que o Brasil seja um polo do nascimento de novas fintechs voltadas para o setor. Nos próximos anos, boa parte dos unicórnios brasileiros serão do agro. 

As vantagens trazidas pela inovação tecnológica não cessam aí. Um dos maiores inimigos das empresas brasileiras, a burocracia, também está sofrendo um processo de agilização. 

“A burocracia também está melhorando. Registro de CPFs, registros da B3, enfim, tudo está pulverizando através da tecnologia”, diz o CEO da Agromoney. “Só não fazemos mais por conta do lobby no congresso nacional”. 

O grande beneficiado disso tudo é o consumidor final, seja ele do mercado brasileiro ou externo. Para Antônio, como o país está aprendendo a produzir mais em um espaço de tempo mais curto, o consumidor do mercado interno será o primeiro a se beneficiar. 

O futuro do setor é próspero e é acompanhado de um intenso processo tecnológico. Barreiras, porém, existem, como os lobbies no Congresso Nacional e a carência que o país ainda possui na condução de estratégias de gerenciamento financeiro para cada produtor e empresa. 

O moderno agro brasileiro é marcado por inúmeras fusões, criações de fintechs e altíssimo investimento em tecnologia. Neste caso, a boa gestão do dinheiro entra como um fator fundamental para o crescimento saudável. 

É por conta desta carência no mercado nacional que empresas como a Agromoney, do Antônio, desempenham um importante papel para a categoria. 

“Minha empresa foi criada justamente para tentar auxiliar em algo que vemos como fraqueza”, diz Antônio. “Se investe muito, mas nem sempre se faz uma análise correta de viabilidade econômica”. 

Atualmente, a Agromoney fornece assessoria tanto para produtores rurais médios e grandes, como para empresas do agronegócio. 

“Fazemos planejamento de fluxo de caixa, analisamos e levantamos dados por talhão, fazemos fechamento, balanço, DRE [Demonstrativo de Resultados do Exercício], DFC [Demonstrativo de Fluxo de Caixa]”, diz Antônio. 

O economista-chefe da Farsul é uma das várias pessoas que acreditam no agronegócio como um dos setores brasileiros que mais devem crescer nos próximos anos, tanto nas receitas geradas quanto nos investimentos em inovações tecnológicas. Para ele, o produtor brasileiro é “viciado em tecnologia”. 

“As pessoas atribuem ao meio rural um certo conservadorismo, e eu não concordo com isso”, diz ele. “Do ponto de vista da inovação, é um setor bem agressivo”. 

Juan Tasso - Smart Money

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