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Conflito Venezuela Guiana pode chegar no Brasil?

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A disputa territorial entre a Venezuela e a Guiana é uma questão complexa que remonta aos tempos coloniais. O conflito gira em torno da região de Essequibo. A origem desse conflito tem início no século 19, quando a Venezuela se tornou independente da Espanha. Mais tarde um tratado entre o Reino Unido e Holanda concedeu em 1814 terras que eram de Amsterdã, ao norte do Brasil, para os britânicos. Os venezuelanos contestaram a divisão, e uma comissão internacional foi formada em Paris para arbitrar a questão de Essequibo. Em 1899, um laudo deu posse definitiva da área ao Reino Unido.

A disputa foi reacendida no fim dos anos 40, quando a Venezuela iniciou uma campanha baseada na acusação de que o acordo era fraudulento e fora influenciado por Londres. Em 1966 foi firmado o Acordo de Genebra entre Londres e Caracas, onde todos concordavam em discordar. A Venezuela firmava sua rejeição ao laudo de 1899, e o Reino Unido aceitava discutir a questão fronteiriça até haver uma decisão.

Poucos meses depois, a Guiana se tornou independente dos britânicos e Essequibo representando dois terços do seu território, deixando assim o assunto congelado.

Em 2015, a disputa se intensificou quando o governo de Georgetown fez um acordo com a petroleira americana Exxon Mobil para a prospecção do mapa territorial de Essequibo. Foram localizadas enormes reservas potenciais a 190km da costa, um petróleo do tipo leve, mais valioso. Único país a falar inglês na América do Sul e com traços culturais mais próximos das nações do Caribe do que dos vizinhos por terra, o país era até pouco tempo um dos mais pobres do continente, com uma população de aproximadamente 800 mil habitantes. Até a enorme descoberta de reserva inexplorada a Guiana tinha o segundo o pior PIB per capita do continente. Porém os estimados 11 bilhões de barris de petróleo do bloco Stabroek provocaram a maior arrancada econômica do mundo. Com o ouro negro a economia quadruplicou nos últimos cinco anos, fazendo o pais ultrapassar o PIB per capita do Brasil. Em 2022 o pais teve o maior crescimento percentual do PIB per capita do mundo, 62%. Em 2023 deve alcançar 40% de crescimento segundo o FMI.

E isso parece ser apenas o começo, a Exxon Mobil mantem 63 projetos de perfuração no bloco, com uma produção diária estimada em 600 mil  barris de petróleo por dia, com projeção que chegue a 1,2 milhão de barris por dia em 2027. Estimativas também apontam que o país deve superar o Kuwait como maior produtor mundial per capita.

Todo esse sucesso guianense, despertou inveja do seu vizinho. A Venezuela vive exatamente o cenário oposto, um país em frangalhos, com altos níveis de corrupção política, escassez de produtos básicos, fechamento de empresas privadas, liberdade econômica em níveis baixos e deterioração da produtividade e da competitividade, trazendo uma realidade para quase 90% de venezuelanos viverem na pobreza. Chaves e Maduro seguiram a cartilha clássica dos regimes autoritários e fracassados economicamente, controlando o judiciário, aumentando o estado e a burocracia, perseguição de juízes e jornalistas independentes, fazendo a Venezuela ser a segunda maior crise de refugiados do mundo, somente atras da Síria.

Não é difícil imaginar o porquê do regime do ditador Nicolas Maduro ter reascendido a disputa. Maduro chamou o presidente da Guiana de escravo da Exxon Mobil, e que após reaver e anexar a região de Essequibo, a Venezuela concederá novas licenças de exploração de petróleo na região para a petrolífera estatal venezuelana PDVSA e ordenara a saída das empresas que já trabalham na área. Seria um conto moderno da cigarra e da formiga.

Em termos de conflito, seria uma vitória fácil para a Venezuela, caso não houver atores de fora na disputa. As forças armadas venezuelanas contam com 130 mil militares e 220 mil paramilitares. A Guiana possui 5 mil voluntários, não tem nem avião nem helicópteros para se defender. Obviamente esse ataque no mínimo levaria a uma condenação diplomática global muito ampla. Maduro também coloca no preço, a entrada de países mais fortes no conflito em defesa da Guiana, como os EUA. Biden provavelmente teria que fazer algo, se não fizesse, diminuiria e muito suas chances de reeleição contra Trump em menos de um ano. O cenário já é difícil para o democrata, pois é visto como fraco, pois vários conflitos globais, como Rússia x Ucrania, Israel x Hamas, surgiram durante sua gestão. Um conflito no continente americano, chancelaria mais essa visão.

Como era de se esperar, os olhos do mundo sempre se voltam ao Brasil quando existe a possibilidade de um conflito na América do Sul, por representar mais da metade do PIB e da população da região, e porque a atual administração do executivo brasileiro através de Lula é muito ativa em conflitos no Oriente Médio e na Europa, sempre buscando um protagonismo na mediação.

Lula até então tem feito muito pouco para a Guiana, parece que o presidente quer resolver os problemas do mundo enquanto não resolve os de seus vizinhos mais próximos, que fazem fronteira. A Guiana sabe que precisa de proteção, e vê que a administração brasileira não condena a possível invasão venezuelana, por isso tem buscado cada vez mais o apoio norte americano. Maduro até então sabe que tem Brasília como aliada, que mesmo em momentos difíceis, não deverá ver o Brasil impondo sanções ou votando contra na ONU. Se Lula fizer isso sabe que perde apoio de parte da base do PT e da esquerda.

 Se de fato acontecer uma guerra, isso afetaria os investimentos brasileiros e teria reflexo na bolsa. Não apenas por mais um conflito em países produtores de petróleo, o que implicaria em mais sanções e choque de demanda x oferta, afetando o preço do petróleo e da inflação, mas por tirar um argumento sul-americano muito forte para receber capital externo, aqui não há conflitos bélicos. Curiosamente novembro foi o mês recorde de aportes mensais de estrangeiros na bolsa, 21 bilhões de reais, em um momento em que os investidores buscam alternativas em ativos emergentes, com prêmios maiores do que vistos no primeiro mundo, e por questões geopolíticas, o Brasil segue como uma das principais preferências.

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A educação financeira é uma histórica lacuna no nosso modelo de ensino, mas felizmente existem dezenas de iniciativas que trabalham para fechar esse gap, e o projeto desta coluna é mais uma delas. Temos como missão traduzir para você aquele “Economês” frequente no mercado financeiro, além de desmistificar os paradigmas mais comuns do cotidiano de um investidor. Vamos tratar de temas atuais e como eles podem impactar diretamente a maneira como você investe. Vamos propor reflexões sobre o cenário e como tirar o melhor proveito dele. Nosso intuito é trazer um ponto de vista do lado de dentro do mercado, como cada tema é tratado e discutido na frenética mesa de operações – um mundo fascinante. Estaremos aqui todas as segundas-feiras, sempre tratando do que é relevante para você e seus investimentos. Juntos vamos fazer investimentos mais inteligentes!"

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A educação financeira é uma histórica lacuna no nosso modelo de ensino, mas felizmente existem dezenas de iniciativas que trabalham para fechar esse gap, e o projeto desta coluna é mais uma delas. Temos como missão traduzir para você aquele “Economês” frequente no mercado financeiro, além de desmistificar os paradigmas mais comuns do cotidiano de um investidor. Vamos tratar de temas atuais e como eles podem impactar diretamente a maneira como você investe. Vamos propor reflexões sobre o cenário e como tirar o melhor proveito dele. Nosso intuito é trazer um ponto de vista do lado de dentro do mercado, como cada tema é tratado e discutido na frenética mesa de operações – um mundo fascinante. Estaremos aqui todas as segundas-feiras, sempre tratando do que é relevante para você e seus investimentos. Juntos vamos fazer investimentos mais inteligentes!"
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