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Fed Hawkish e Bacen surpreso com IPCA

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Na semana passada a ata do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc), na minha opinião, finalmente convergiu para a realidade econômica que os Estados Unidos passam no atual momento.   

Realidade essa permeada por aumentos sucessivos dos preços que primeiramente foram desencadeados por uma desestruturação global da cadeia de oferta e potencializados pela guerra que ainda segue no impasse.  

As divergências de postura dos membros do comitê em relação ao aperto monetário ficavam cada vez mais evidentes a cada reunião, porém a fala final de Powell sempre desvirtuava a pressão, ora justificando o mercado de trabalho americano, novos lockdowns e agora o recente conflito.  

Os mercados já começam a precificar o aperto monetário, e logo, a principal bolsa de tecnologia do mundo – a NASDAQ Stock Market – acumula queda média nesse mês de -5,70% e -14,30% no ano. Nesse contexto, as empresas de tecnologia são mais sensíveis a políticas contracionistas de elevação de juros, principalmente pela necessidade de endividamento para viabilizar a consolidação do crescimento que muitas vezes ocorre no longo prazo.  

Um sinal de aceleração na retirada de estímulos da economia americana, em parte pode ser justificado também pela inversão nas taxas de juros do tesouro americano, onde títulos de três e cinco anos possuem rentabilidade próxima ou superior ao título dez anos que em média pagam 2,78% a.a. A preocupação com a inflação americana parece ter chegado no limite e pode ser expressada pela fala da presidente da divisão do Fed de São Francisco, Mary Daly se referindo que a inflação é tão prejudicial para as pessoas quanto estarem desempregadas.  

No Brasil, no final de março, o presidente do Banco Central Roberto Campos Neto afirmava para o mercado que não seria provável um aumento adicional nos juros na reunião de política monetária de junho. Nesse sentido, de acordo com a última ata o mercado passava a precificar mais uma elevação em maio, encerrando o ciclo de alta dos juros em 12,75%. 

Todavia, o IPCA-15 de março já sinalizava piora no cenário inflacionário motivado principalmente pela alta dos alimentos. Cabe destacar que o dado foi o maior registrado para o mês de março nos últimos sete anos. 

Entretanto, o dado oficial da inflação brasileira (IPCA), registrou 1,62% em março, não ficando somente acima das expectativas do mercado, mas também a maior variação observada para o mês em 28 anos. Dos grupos pesquisados, transportes (3,02%) tiveram maior representatividade, impactado pela alta dos combustíveis. Alimentos e bebidas, corroborando com a prévia (IPCA-15), foi o segundo grupo com peso de 2,42%. 

Em evento nesta segunda feira (11), o presidente do Bacen, Roberto Campos Neto, destacou que a alta expressiva do indicador em março foi motivo de “surpresa”, mudando totalmente a retórica em relação a inflação (alta e persistente). Destaca também que o tema será bastante discutido pelo comitê nos próximos dias.  

Os comentários de Campos Neto foram recebidos negativamente pelo mercado, o qual já precifica Selic final em 13,5%, estendendo assim o ciclo de aperto monetário. No fim da sessão regular na B3, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2023 fechou com alta de 13,10% (+1,89%), e do contrato de janeiro de 2024 em 12,69% (+1,89%). A curva longa para janeiro de 2029 fechou em 11,69% (+0,43%). 

Diante dos fatos, a inflação disseminada pode comprometer a ancoragem das expectativas para 2023 e logo encerrar o ciclo em maio pode ser um risco, visto que abril novas surpresas poderão surgir no indicador. A apreciação do real frente ao dólar pode ser um atenuante positivo.

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A educação financeira é uma histórica lacuna no nosso modelo de ensino, mas felizmente existem dezenas de iniciativas que trabalham para fechar esse gap, e o projeto desta coluna é mais uma delas. Temos como missão traduzir para você aquele “Economês” frequente no mercado financeiro, além de desmistificar os paradigmas mais comuns do cotidiano de um investidor. Vamos tratar de temas atuais e como eles podem impactar diretamente a maneira como você investe. Vamos propor reflexões sobre o cenário e como tirar o melhor proveito dele. Nosso intuito é trazer um ponto de vista do lado de dentro do mercado, como cada tema é tratado e discutido na frenética mesa de operações – um mundo fascinante. Estaremos aqui todas as segundas-feiras, sempre tratando do que é relevante para você e seus investimentos. Juntos vamos fazer investimentos mais inteligentes!"

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