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Guerra no Oriente Médio, papel do Brasil e preço do petróleo

3 Minutos de leitura

Nunca vi em 12 anos um mercado tão curto prazista como agora. E o mercado historicamente só consegue absorver uma notícia por vez. A preocupação que já foi nos últimos dois anos com número de mortos da COVID, eficácia das vacinas, recuperação dos PIBs em V ou em U (mais acelerada ou mais demorada), eleições presidenciais gerais, impactos das medidas de um governo de esquerda, demora pelo começo do início do ciclo de queda de juros no Brasil. Agora se concentra exclusivamente nos juros americanos. Mas por quê?

Caso os juros americanos subam muito, impossibilita o Banco Central brasileiro de realizar quedas de juros mais significativas por aqui, prejudicando 90% das empresas brasileiras. E por que a guerra no Oriente Médio, para muitos apenas guerra Israel x Hamas, impacta os juros americanos?

Podemos citar vários pontos, mas o primeiro e mais importante, preço do petróleo. Os preços dos combustíveis impactam diretamente o preço da inflação, ou seja, se o petróleo subir, a inflação sobe, e os juros americanos ou sobem ou ficam altos por mais tempo, dois cenários ruins para os mercados.

Para termos uma ideia do que está acontecendo nessa nova Guerra Fria do século 21, temos que entender quem são os maiores consumidores e produtores de petróleo no mundo. Segundo dados de agosto de 2023, os maiores produtores de petróleo por barril extraído por dia são:

EUA 16M
Arábia Saudita 11M
Rússia 11M
Canadá 5M
Iraque 4M
China 4M
Emirados Árabes 4M
Irã 4M
Brasil 3M
Kuwait 3M

Maiores consumidores por dia:

EUA 19M
China 15M
Índia 5M
Japão 4M
Rússia 4M
Arábia Saudita 3M
Brasil 3M
Coreia do Sul 3M
Canadá 2M
Alemanha 2M

Uma tensão no Oriente Médio envolve países que correspondem a algo próximo a 30% da produção de petróleo no mundo. Historicamente em momentos de tensões naquela região o preço do petróleo dispara, com menor produção dos países produtores e embargos de países consumidores aos produtores. Nessa em especial temos novos atores diferentes envolvidos, como Estados Unidos e China.

Em qualquer conflito e disputa global nos últimos anos, independente do que seja, EUA está de um lado e China do outro, mostrando um mundo bipolar, uma nova Guerra Fria que não envolve apenas esses dois países mas sim todos os seus respectivos aliados. Não interessa para a China fortalecer um aliado dos americanos, nem vice versa. E cada um busca puxar os países neutros/isentões, como o Brasil, para o seu lado.

Não consigo acreditar que China e Rússia, aliados históricos do mundo árabe, não tinham ciência previamente dos ataques covardes que Israel sofreria do Hamas. Assim como não acredito que Pequim não soubesse do ataque russo à Ucrânia antes de acontecer em fevereiro de 22.

A aproximação de Israel com diversos países do mundo árabe não interessava a muitos atores globais, e isto estava acontecendo. Em 2022, líder israelense foi recebido nos Emirados Árabes com músicos árabes na sede do governo tocando Hatikvah (hino de Israel). Era sabido por toda comunidade internacional que existia um acordo sendo costurado pelos Estados Unidos entre Israel e a Arábia Saudita, país mais emblemático para o mundo árabe, pois além de ser o maior populacionalmente, foi onde nasceu o Islã e onde estão as duas cidades mais sagradas para a religião muçulmana (Meca e Medina). Segundo fontes esse acordo entre árabes e judeus estava muito próximo de ser selado, e se tem algo que podemos afirmar após os eventos recentes, é que este acordo ficou mais distante.

Até esse artigo ter sido escrito, Arábia Saudita e diversos outros países estavam oficialmente fora do conflito, se resumindo a confrontos diretamente na Faixa de Gaza, e tensões nas divisas de Israel com Líbano e Síria. Mas alguns especialistas no setor petrolífero escrevem que o eventual envolvimento direto de Líbano, Síria e Irã poderia empurrar o barril de petróleo para 150 dólares, alta de mais de 50%. Em um segundo cenário onde o Irã não se envolvesse o petróleo poderia chegar a 105 dólares, alta de 10%.

Não tenho certeza sobre o que irá acontecer, mas acredito que se houver o primeiro cenário de envolvimento direto do Irã, é grande a possibilidade de fuzis nas mãos de soldados americanos serem disparados em terras orientais, levando o conflito infelizmente a outro patamar e incluindo diretamente diversos atores dos dois lados. Em termos financeiros, creio ser importante para os investidores ter petróleo em suas carteiras.

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A educação financeira é uma histórica lacuna no nosso modelo de ensino, mas felizmente existem dezenas de iniciativas que trabalham para fechar esse gap, e o projeto desta coluna é mais uma delas. Temos como missão traduzir para você aquele “Economês” frequente no mercado financeiro, além de desmistificar os paradigmas mais comuns do cotidiano de um investidor. Vamos tratar de temas atuais e como eles podem impactar diretamente a maneira como você investe. Vamos propor reflexões sobre o cenário e como tirar o melhor proveito dele. Nosso intuito é trazer um ponto de vista do lado de dentro do mercado, como cada tema é tratado e discutido na frenética mesa de operações – um mundo fascinante. Estaremos aqui todas as segundas-feiras, sempre tratando do que é relevante para você e seus investimentos. Juntos vamos fazer investimentos mais inteligentes!"

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A educação financeira é uma histórica lacuna no nosso modelo de ensino, mas felizmente existem dezenas de iniciativas que trabalham para fechar esse gap, e o projeto desta coluna é mais uma delas. Temos como missão traduzir para você aquele “Economês” frequente no mercado financeiro, além de desmistificar os paradigmas mais comuns do cotidiano de um investidor. Vamos tratar de temas atuais e como eles podem impactar diretamente a maneira como você investe. Vamos propor reflexões sobre o cenário e como tirar o melhor proveito dele. Nosso intuito é trazer um ponto de vista do lado de dentro do mercado, como cada tema é tratado e discutido na frenética mesa de operações – um mundo fascinante. Estaremos aqui todas as segundas-feiras, sempre tratando do que é relevante para você e seus investimentos. Juntos vamos fazer investimentos mais inteligentes!"
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