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Ibovespa surpreende com a melhor semana de ganhos desde abril

4 Minutos de leitura

O Ibovespa encerrou a semana entre 30 de outubro e 3 de novembro com um notável ganho de 4,29%, ao patamar de 118.160 pontos. Enquanto isso, o dólar registrou uma queda de 2,20%, sendo cotado a R$4,90/US$, em um contexto marcado por decisões de política monetária de grande importância tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos. Além disso, ao longo da semana, ocorreu a divulgação de indicadores econômicos de destaque, incluindo o relatório de emprego dos EUA (payroll). Neste artigo, começarei por explorar esses movimentos e, em última análise, discutirei uma questão crucial: é este o momento apropriado para investir na bolsa brasileira?

Na quarta-feira (01), o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) reduziu novamente a taxa Selic de 12,75% para 12,25% ao ano, conforme esperado pelo mercado. Em seu comunicado, o comitê enfatizou que “o ambiente externo mostra-se adverso, em função da elevação das taxas de juros de prazos mais longos nos Estados Unidos, da resiliência dos núcleos de inflação em níveis ainda elevados em diversos países e de novas tensões geopolíticas”, como o recente conflito entre Israel e Hamas iniciado no dia 07 de outubro, que continua gerando uma pressão altista nos preços do petróleo e consequentemente, na inflação global.  O mercado reagiu positivamente à unanimidade entre os membros do Copom em prever uma redução de 0,5% nas próximas reuniões, considerando esse ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo de desinflação. Atualmente, as projeções de inflação (IPCA) do Copom em seu cenário de referência estão em 4,7% em 2023, 3,6% em 2024 e 3,2% em 2025. As metas de inflação para o Banco Central são 3,25%, 3,00% e 3,00%, respectivamente, com um intervalo de 1,50% para cima ou para baixo. As expectativas da taxa Selic para 2023, 2024 e 2025 apuradas pela pesquisa Focus encontram-se em 11,75 %, 9,25% e 8,75%, respectivamente.

Na mesma data, o Comitê de Política Monetária do Federal Reserve (FOMC) optou por manter a taxa de juros inalterada, como amplamente esperado, na faixa de 5,25% a 5,50% ao ano. Jerome Powell, presidente do Federal Reserve (FED), reiterou a determinação do banco central em continuar suas ações de contenção da inflação, descrevendo esse processo em três etapas: estabelecer um limite para o aumento das taxas, definir a extensão da manutenção das taxas elevadas e, apenas então, considerar possíveis cortes. Powell ressaltou que o FED ainda se encontra nos estágios iniciais desse processo, e a decisão está sendo avaliada a cada reunião, o que torna o resultado da reunião de dezembro incerto, com o mercado atribuindo uma probabilidade de 20% a um aumento da taxa. No entanto, ele enfatizou que as condições econômicas já estão altamente restritivas e que o FOMC agirá com extrema cautela daqui em diante.

Na sexta-feira (03) novos dados econômicos relativos ao mercado de trabalho dos EUA amenizaram as preocupações inflacionárias e reforçaram a percepção de que o FED se aproxima do final do ciclo de aperto monetário. Isso gerou um impacto positivo no sentimento do mercado global, reduzindo os rendimentos das Treasuries americanas (títulos do Tesouro dos EUA), como demonstrado na Figura 1, o que, por sua vez, contribuiu para a queda do valor do dólar. O relatório do payroll, uma métrica-chave para a avaliação do mercado de trabalho nos EUA, revelou uma desaceleração na criação de empregos, com a geração de 150 mil novos postos de trabalho, em contraste com a leitura anterior de 290 mil e a expectativa de 180 mil. A taxa de desemprego em outubro aumentou para 3,9%, superando a expectativa de 3,8%, enquanto a remuneração média por hora trabalhada registrou um aumento na base mensal de 0,2%, abaixo da expectativa de crescimento de 0,3%.

Figura 1 – Taxas das Treasuries de 10 e 30 anos – Últimos 6 meses. Fonte: XP Research, Bloomberg. Dados de 03/11/2023.

Para fornecer um contexto, é relevante observar que atualmente, as taxas das Treasuries de 10 e 30 anos nos Estados Unidos estão no mesmo nível que apresentavam em agosto de 2007. Na minha perspectiva, esses títulos representam uma referência fundamental para investidores em todo o mundo quando decidem alocar seus recursos. Eles precisam escolher entre economias seguras, como a dos EUA, ou migrar seus investimentos para países emergentes, como o Brasil, dependendo do prêmio de risco envolvido. Nos últimos três meses, devido à aversão ao risco e ao aumento dessas taxas, testemunhamos uma saída de investimentos estrangeiros de aproximadamente R$17,8 bilhões na B3, embora ainda haja um saldo positivo de cerca de R$6,4 bilhões no acumulado do ano, o que representa aproximadamente 55% do fluxo total. Em outras palavras, a queda nas taxas de rendimento das Treasuries pode abrir caminho para que esse fluxo estrangeiro volte a crescer na B3. Além disso, quando analisamos os múltiplos de negociação da bolsa brasileira em comparação com os mercados globais, observamos que o Brasil apresenta um múltiplo de Preço/Lucro (P/L) de 7,5x, significativamente abaixo de seus pares, juntamente com um Dividend Yield (DY) de 6,9%, o mais alto entre eles. A Figura 2 ilustra o valuation do Ibovespa em relação às bolsas globais, com o P/L projetado no eixo esquerdo (cinza) e o Dividend Yield no eixo direito (amarelo).

Figura 2 – Valuation das bolsas globais. Fonte: XP Research, Bloomberg. Dados de 03/11/2023.

Com base na análise apresentada, identifico uma oportunidade promissora de investimentos na bolsa de valores brasileira, sobretudo em empresas com histórico de crescimento sólido, operando em setores econômicos resilientes e com perspectivas favoráveis de expansão. No entanto, é essencial que leve em consideração seu perfil de investidor, objetivos financeiros, horizonte temporal e tolerância ao risco. Sinta-se à vontade para contatar seu assessor de investimentos, estamos aqui para fornecer o apoio que você precisa. Desejo sucesso em seus investimentos!

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A educação financeira é uma histórica lacuna no nosso modelo de ensino, mas felizmente existem dezenas de iniciativas que trabalham para fechar esse gap, e o projeto desta coluna é mais uma delas. Temos como missão traduzir para você aquele “Economês” frequente no mercado financeiro, além de desmistificar os paradigmas mais comuns do cotidiano de um investidor. Vamos tratar de temas atuais e como eles podem impactar diretamente a maneira como você investe. Vamos propor reflexões sobre o cenário e como tirar o melhor proveito dele. Nosso intuito é trazer um ponto de vista do lado de dentro do mercado, como cada tema é tratado e discutido na frenética mesa de operações – um mundo fascinante. Estaremos aqui todas as segundas-feiras, sempre tratando do que é relevante para você e seus investimentos. Juntos vamos fazer investimentos mais inteligentes!"

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A educação financeira é uma histórica lacuna no nosso modelo de ensino, mas felizmente existem dezenas de iniciativas que trabalham para fechar esse gap, e o projeto desta coluna é mais uma delas. Temos como missão traduzir para você aquele “Economês” frequente no mercado financeiro, além de desmistificar os paradigmas mais comuns do cotidiano de um investidor. Vamos tratar de temas atuais e como eles podem impactar diretamente a maneira como você investe. Vamos propor reflexões sobre o cenário e como tirar o melhor proveito dele. Nosso intuito é trazer um ponto de vista do lado de dentro do mercado, como cada tema é tratado e discutido na frenética mesa de operações – um mundo fascinante. Estaremos aqui todas as segundas-feiras, sempre tratando do que é relevante para você e seus investimentos. Juntos vamos fazer investimentos mais inteligentes!"
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