Smart Trade

Peronismo, o trágico tango argentino que mergulhou o país num caos interminável há 70 anos

4 Minutos de leitura

Em 1943 ocorreu um golpe militar que marcou o início de um novo modelo político, uma terceira opção, nem comunista, nem capitalista, chamado Peronismo. Juan Domingos Perón que assumiu o cargo de ministro do trabalho se cercou fortemente dos trabalhadores e dos sindicatos. Os discursos de Perón eram cheios de populismo e aumento de programas sociais, o que garantiram sua ascensão ao poder e a simpatia da população mais pobre. Eleito democraticamente três vezes presidente, toda vez que voltava, encontrava problemas que ele mesmo deixara. Por esse caos econômico e instabilidade política deixado por Perón e sua viúva presidente após sua morte, todos os sucessores tiveram grandes problemas principalmente por repetirem boa parte da política econômica de Perón, congelando preços e salários para tentar conter o alto desemprego e alta inflação.

Os nomes mudaram, mas a linha Peronista seguiu a mesma, acusações de corrupção, políticas cada vez mais assistencialistas e a ideia de que a solução dos problemas seria aumentando os gastos públicos. Mauricio Macri ex-prefeito de Buenos Aires e ex-presidente do time mais popular do país, Boca Juniors, consegue em 2015 vencer os Peronistas tendo sido o único presidente argentino não peronista a terminar o mandato em 73 anos. Porém Macri não tem sucesso, tenta estabilizar a economia que já pegou em frangalhos, com ideias de austeridade, mas enfrenta um congresso de maioria Peronista e não consegue implementar sua agenda, não aliviando o caos, inflação chegando a bater 53%, e miséria aumentando.

O atual presidente Fernandez retoma o poder aos Peronistas e segue à risca a cartilha praticada nas últimas décadas, conseguindo o feito de levar o país mais para o buraco econômico e social, chegando a um recorde de inflação de 115% ao ano. Fernandez sequer tentou pleitear uma reeleição, deixando o caminho aberto para novos nomes.

As eleições na argentina diferentemente do brasil serão mais instáveis, não só pelo cenário econômico brasileiro muito melhor, mas por ter os dois principais favoritos já tendo estado no cargo no passado. Na Argentina teremos alguém que nunca ocupou o poder, serão três nomes com reais chances de vitória, Bullrich a candidata de Mauricio Macri, trazendo uma bandeira que o governo do seu padrinho só não foi bem-sucedido pela falta de apoio no congresso, mas que a fórmula está correta: um governo de centro direita.

O segundo nome, é governista, do atual ministro da economia argentina Sergio Massa, defendendo discretamente Fernandez, mas jogando todas suas fichas na força do peronista, ainda o maior partido do pais, com mais de 3 milhões de filiados (6,67% da população). Para se ter uma ideia dessa força, o maior partido do Brasil é o MDB com 2 milhoes de filiados (0,91% da população), seguido pelo PT com 1,6 milhões (0,73%).

Mas o grande vitorioso nas primárias e favorito até esse momento a vencer as eleições gerais, se chama Javier Milei.


Milei é um outsider. Não esperado em nenhuma pesquisa. Não possui boas relações com a imprensa argentina. É chamando de radical. Ultradireita. Sempre o colocando em fotos e em manchetes de forma raivosa e irritada. Milei defende fielmente a escola austríaca de economia, e suas ideias sempre vão em busca da liberdade para as pessoas e para as empresas, diminuindo o tamanho do estado em absolutamente tudo.  Seu grande objetivo é fazer a maior reforma de estado da Argentina. Segundo ele a função do Estado não é se intrometer na vida dos indivíduos, nem para o bem, nem para o mal. Para Milei,  a função do estado é proteger os direitos fundamentais da vida, da liberdade e da propriedade privada. 


O segundo objetivo de Javier é a redução de impostos, diminuição das leis trabalhistas e abertura comercial do país, porque, para ele, com essas reformas as empesas nacionais estarão muito mais competitivas que hoje e abertas para o livre mercado. 


Outra pauta polemica de Milei é a eliminação do Banco Central, pois sem tê-lo emitindo dinheiro, o governo não poderá aumentar seus gastos públicos. Assim, protegendo o cidadão do aumento da inflação. Para ele, o fim do Banco Central fará os argentinos comercializarem a moeda que decidirem, incluindo o bitcoin. 


Embora existam pesquisas falando em vitória de Milei no primeiro turno (chegando a 40% dos votos), hoje temos como a maior probabilidade a disputa de um segundo turno de Javier Milei x Massa ou x Javier Milei Bullrich.

Porém o maior desafio do libertário é na chegada a casa rosada. Caso Milei seja eleito em primeiro ou segundo turno, terá grandes dificuldades. Vimos um Macri como centro direita, muito menos liberal e mais aberto ao diálogo que Javier, ser devorado pelos Peronistas no congresso. Como será a administração Milei se não tiver maioria no congresso? A certeza que temos desde já é que ele não terá, pelo menos sem fazer acordos com outros partidos. Precisará dialogar com congressistas de outras vertentes políticas, e muito provavelmente tendo que ceder. Esse tem sido o grande medo do mercado financeiro em Javier, não as suas ideias libertarias, que o mercado responde com bons olhos, mas sim sua governabilidade. Isto pois seu discurso não demonstra interesse em negociar e ceder para o que ele chama de casta política. A preocupação é como ele irá contra os políticos se precisará dos políticos para governar? Governar por referendo popular é algo inédito e perigoso.

Outra coisa que assusta alguns agentes do mercado financeiro é uma mudança drástica, por mais que sejam iniciativas de redução de custos do estado. Mudar rápido é perigoso. Metade da população argentina é dependente de auxílios do governo.

O governo Lula tem seu favorito: a manutenção do Peronismo. Desde que Lula assumiu o poder em Janeiro as parcerias e transferências financeiras foram aumentadas entre os dois países. Recentemente o Brasil usou seu capital político no BRICS para incluir a Argentina no bloco, algo que os dois candidatos não peronistas vão recusar o convite. O que seria uma perda de influência de Lula na região perante o resto do mundo. A vitória de Milei seria ainda pior que de Bullrich para Lula, pois o mesmo promete inclusive tirar o pais do Mercosul, bloco existente desde 1991 que tem atualmente Lula como presidente.

Até 22 de outubro, muita coisa pode acontecer, ainda faltam os debates, e ambos os candidatos devem procurar desestabilizar Milei. O que julgando pelo seu perfil explosivo não deverá ser algo muito difícil.

Smart Trade

A educação financeira é uma histórica lacuna no nosso modelo de ensino, mas felizmente existem dezenas de iniciativas que trabalham para fechar esse gap, e o projeto desta coluna é mais uma delas. Temos como missão traduzir para você aquele “Economês” frequente no mercado financeiro, além de desmistificar os paradigmas mais comuns do cotidiano de um investidor. Vamos tratar de temas atuais e como eles podem impactar diretamente a maneira como você investe. Vamos propor reflexões sobre o cenário e como tirar o melhor proveito dele. Nosso intuito é trazer um ponto de vista do lado de dentro do mercado, como cada tema é tratado e discutido na frenética mesa de operações – um mundo fascinante. Estaremos aqui todas as segundas-feiras, sempre tratando do que é relevante para você e seus investimentos. Juntos vamos fazer investimentos mais inteligentes!"

80 posts

Sobre o autor
A educação financeira é uma histórica lacuna no nosso modelo de ensino, mas felizmente existem dezenas de iniciativas que trabalham para fechar esse gap, e o projeto desta coluna é mais uma delas. Temos como missão traduzir para você aquele “Economês” frequente no mercado financeiro, além de desmistificar os paradigmas mais comuns do cotidiano de um investidor. Vamos tratar de temas atuais e como eles podem impactar diretamente a maneira como você investe. Vamos propor reflexões sobre o cenário e como tirar o melhor proveito dele. Nosso intuito é trazer um ponto de vista do lado de dentro do mercado, como cada tema é tratado e discutido na frenética mesa de operações – um mundo fascinante. Estaremos aqui todas as segundas-feiras, sempre tratando do que é relevante para você e seus investimentos. Juntos vamos fazer investimentos mais inteligentes!"
Conteúdos
Postagens relacionadas
Smart Trade

Bolsa em queda: o que justifica o estresse dos mercados em 2024?

2 Minutos de leitura
Dezembro de 2023. O discurso no mundo era de seis cortes de juros nos EUA a iniciar já no primeiro semestre; e,…
Smart Trade

Impacto dos Conflitos no Oriente Médio no Mercado de Ações Brasileiro e na Inflação Global

3 Minutos de leitura
Os conflitos no Oriente Médio têm desencadeado ondas de instabilidade que reverberam além das fronteiras da região, afetando economias ao redor do…
Smart Trade

Fusão 3R Petroleum e Enauta: o que esperar?

2 Minutos de leitura
Hoje iremos abordar um tema que teve muitos comentários nos últimos 15 dias sobre possível fusão entre RRRP3 (3R Petroleum) e ENAT3…