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Retrospectiva de 2023 e Perspectivas de Mercado para 2024

3 Minutos de leitura

O ano de 2023 foi marcado por uma intensa volatilidade nos mercados globais, impulsionada por uma série de eventos de grande relevância. Destacam-se a elevação das taxas de juros pelos principais bancos centrais na tentativa de conter o avanço da inflação (que atualmente ainda se encontra acima das metas), a crise nos bancos regionais americanos e sinais cautelosos sobre a reabertura econômica chinesa. Conflitos geopolíticos, como os entre Rússia-Ucrânia e Israel-Hamas também exerceram influência significativa. Apesar desse cenário macroeconômico desafiador, os mercados globais experimentaram uma recuperação ao longo do ano, com o Brasil se destacando como um dos principais protagonistas desse processo. O crescimento econômico acima das expectativas, as políticas econômicas mais favoráveis do que inicialmente previstas, o início do ciclo de redução da taxa Selic, a alta exposição a setores ligados em commodities e bancos e múltiplos descontados em relação aos múltiplos históricos foram os principais fatores que fizeram o Ibovespa encerrar o ano próximo ao patamar recorde de 134 mil pontos.

No acumulado do ano, o Ibovespa registrou um retorno de 22,3%, o melhor desempenho desde 2019 e a 11ª maior alta entre 40 das maiores bolsas do mundo. Este rendimento foi bem acima do CDI do período (13,04%) e da inflação dada pelo IPCA (4,68%), sendo o retorno de 10,4% provenientes das principais ações do índice por valor de mercado (VALE3, PETR4, ITUB4, PETR3 e BBDC4), correspondendo a 46,7% do desempenho total do índice durante esse período. A Petrobras se destacou como o melhor desempenho, contribuindo com +33,0% para o resultado do Ibovespa ao somar PETR4 e PETR3. O desempenho de cada setor no índice é apresentado na Figura 1. Nota-se que os setores que mais impulsionaram os ganhos foram Óleo, Gás e Petroquímicos (+75,3%) e Bancos (+46,6%), que são tradicionalmente defensivos, reiterando a postura de cautela dos investidores. Os setores de Propriedades Comerciais (+108,8%) e Educação (+100,2%) destacaram-se com os melhores desempenhos, em virtude do ciclo de redução da taxa Selic.

Figura 1 – Desempenho setorial do Ibovespa em 2023. Fonte:Bloomberg, XP Research. Dados de 28/12/2023.

Para 2024, vislumbra-se melhorias importantes no cenário macroeconômico, com uma tendência de desaceleração da inflação e a ideia de um “pouso suave” na economia. Alguns fatores alimentam a esperança de que o Brasil possa continuar sendo um porto de investimentos e entregar bons retornos nos investimentos de renda varável, conforme detalhados a seguir:

  1. Valuation atrativo

A Figura 2 apresenta as principais métricas de avaliação sobre o índice Ibovespa, tais como: Preço/Lucro, Preço/ Valor Patrimonial, EV (Valor de Firma) /EBITDA, Rendimento de Dividendos projetado, conhecido como Dividend Yield, ROE (Retorno sobre o Patrimônio Líquido) projetado e prêmio de risco. Deste modo, vemos que o Ibovespa ainda negocia a múltiplos de P/L abaixo de suas médias de 15 anos, assim como a relação EV/EBITDA. O ROE, o DY projetado e o prêmio de risco negociam acima das médias, reiterando a visão de que o índice segue descontado sob a ótica fundamentalista. Esta análise permanece válida excluindo Petrobras e Vale, que possuem peso elevado no índice.

Figura 2 – Métricas de valuation do Ibovespa. Fonte:Bloomberg, XP Research. Dados de 27/12/2023.

A Figura 3 apresenta a relação de Preço/Lucro projetado para cada setor do Ibovespa, em comparação com seus múltiplos médios de 10 anos. Observa-se que ainda há um desconto de 23% na relação P/L do índice e descontos significativos nos setores de consumo discricionário, materiais e energia.

Figura 3 – Relação de Preço/Lucro projetado por setor. Fonte:Bloomberg, XP Research. Dados de 27/12/2023.

  • Fluxo de investidores globais

O Brasil atualmente desfruta de uma posição privilegiada em comparação a outros países emergentes, atribuída à ausência de conflitos geopolíticos, perspectivas econômicas favoráveis e controle da inflação. Em 2023, houve a entrada de fluxo estrangeiro de quase US$ 6 bi em ações brasileiras, responsáveis pela maior parte do fluxo do Ibovespa no ano e com potencial para se estender ao longo de 2024. A Figura 4 apresenta o saldo de fluxo estrangeiro para mercados de ações emergentes, no qual se evidencia a relevância dos fluxos de entrada no Brasil, destacados na cor cinza escuro.

Figura 4 – Saldo de fluxo estrangeiro para mercado de ações emergentes (US$ bi). Fontes:B3, IIF, XP Research. Dados de 26/12/2023.

  • Ciclo de corte da taxa Selic

O ciclo de redução das taxas de juros já está em curso, e a economia brasileira encontra-se à frente em termos de política monetária em comparação com seus pares globais. Historicamente, os períodos de flexibilização são benéficos para as ações brasileiras, destacando-se especialmente as empresas de menor capitalização, conhecidas como Small Caps, pois esse cenário aumenta a propensão à tomada de riscos.

Claramente, o mercado financeiro é dinâmico e irá requerer ajustes contínuos ao longo de 2024, especialmente devido à persistência de níveis elevados de juros e a possibilidade de alguns destes impactos se refletirem na economia real. Consultar um especialista em renda variável pode ser fundamental para orientar suas decisões de investimento.

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A educação financeira é uma histórica lacuna no nosso modelo de ensino, mas felizmente existem dezenas de iniciativas que trabalham para fechar esse gap, e o projeto desta coluna é mais uma delas. Temos como missão traduzir para você aquele “Economês” frequente no mercado financeiro, além de desmistificar os paradigmas mais comuns do cotidiano de um investidor. Vamos tratar de temas atuais e como eles podem impactar diretamente a maneira como você investe. Vamos propor reflexões sobre o cenário e como tirar o melhor proveito dele. Nosso intuito é trazer um ponto de vista do lado de dentro do mercado, como cada tema é tratado e discutido na frenética mesa de operações – um mundo fascinante. Estaremos aqui todas as segundas-feiras, sempre tratando do que é relevante para você e seus investimentos. Juntos vamos fazer investimentos mais inteligentes!"

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A educação financeira é uma histórica lacuna no nosso modelo de ensino, mas felizmente existem dezenas de iniciativas que trabalham para fechar esse gap, e o projeto desta coluna é mais uma delas. Temos como missão traduzir para você aquele “Economês” frequente no mercado financeiro, além de desmistificar os paradigmas mais comuns do cotidiano de um investidor. Vamos tratar de temas atuais e como eles podem impactar diretamente a maneira como você investe. Vamos propor reflexões sobre o cenário e como tirar o melhor proveito dele. Nosso intuito é trazer um ponto de vista do lado de dentro do mercado, como cada tema é tratado e discutido na frenética mesa de operações – um mundo fascinante. Estaremos aqui todas as segundas-feiras, sempre tratando do que é relevante para você e seus investimentos. Juntos vamos fazer investimentos mais inteligentes!"
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