Uma tendência ou um viés pode ser entendido como algo que busca seguir determinado caminho. No contexto de finanças comportamentais, os vieses nada mais são do que gatilhos mentais que o cérebro ativa para simplificar um processo de tomada de decisão com base em experiências e informações passadas, podendo levar a erros sistemáticos de análise e julgamento.
Este tema faz uma reflexão sobre os motivos pelos quais alguns investidores e gestores se tornam bem-sucedidos no mercado financeiro e outros não, uma vez que quem é afetado pelos vieses comportamentais tende a agir através da emoção ou do calor do momento, deixando de lado os fatos e a racionalidade.
O primeiro passo para evitar ou minimizar a influência dos vieses comportamentais na tomada de decisão é reconhecer sua existência, para posteriormente perceber quando se está incorrendo neles e, em caso afirmativo, de qual se trata. Podemos destacar algumas das características mais observadas no mercado financeiro:
1 – Ancoragem
É quando a informação inicial, seja ela qual for, muda todo o curso da estimativa futura. Exemplo: um investidor visualizou o preço da ação X por R$10,00. Meses depois, observa que a mesma ação está sendo negociada por R$8,00 e então efetiva a compra do ativo acreditando que está fazendo um excelente negócio e que o preço do ativo voltará para o mesmo valor teto.
Perceba que o investidor ficou ancorado no preço inicial, descartando todo o contexto que possa justificar a queda do valor da ação (risco de mercado, resultados operacionais, entre outros).
2 – Viés de recência
O viés de recência, como o nome sugere, caracteriza-se pelo apego aos fatos recentes e imediatos. Ou seja, o indivíduo passa a tomar decisões dando muito mais ênfase às últimas informações que lhe foram dadas, do que ao conhecimento já adquirido.
Na bolsa de valores, as notícias e expectativas de mercado são rapidamente incorporadas aos preços de negociação dos ativos. Ao agir por impulso diante da reação do mercado, o investidor pode acabar esquecendo dos motivos pelos quais escolheu investir em determinada empresa e, eventualmente, fará movimentos equivocados.
3 – Aversão à perda
Este viés comportamental faz com que o investidor atribua maior importância às perdas do que aos ganhos, induzindo a correr mais riscos com o objetivo de reparar eventuais prejuízos. Exemplo: o investidor aplicou R$1.000,00 em ações da empresa Y. Após um tempo, as ações caíram e estas passaram a valer R$700,00, com pouca perspectiva de melhora para o negócio.
Por conta do prejuízo, o investidor opta por não se desfazer do ativo, renunciando à possibilidade de reposicionar em negócios que possam entregar uma rentabilidade superior. Outro efeito potencialmente prejudicial deste viés é liquidar antecipadamente as posições lucrativas e ainda promissoras, por receio de perder o ganho até então obtido.
4 – Ilusão de controle ou excesso de confiança
A ilusão de controle é um viés no qual o indivíduo exalta seus acertos e subestima seus erros. Desta forma, ele acredita que possui controle sobre eventos futuros e inesperados, indo contra a racionalidade.
Esta crença é potencializada pelo excesso de confiança, no qual o indivíduo superestima a própria capacidade analítica, de julgamento e de tomada de decisão, atribuindo seus eventuais erros a fatores externos.
5 – Viés Retrospectivo
É o viés que faz com que as pessoas avaliem eventos no passado como mais previsíveis do que realmente eram no momento pretérito. Em outras palavras, imagine que você pensa hoje em três hipóteses para um determinado fato. Dias após, quando o fato ocorre, a primeira hipótese é validada. Logo, você esquece que estava em dúvida entre as três e pensa: eu acertei.
Este é o famoso viés do “eu já sabia”, mas na verdade, você não necessariamente sabia. O fato é que você acabou esquecendo das outras hipóteses e focou apenas nos acertos.
6 – Viés de familiaridade
Este viés comportamental explica a tendência que alguns investidores têm em tomarem decisões baseadas na familiaridade ou preferência por determinado investimento. Neste caso, acaba-se por desconsiderar outros ativos e estratégias ainda que se mostrem interessantes e oportunas, apenas por serem desconhecidas.
Um exemplo clássico é quando o investidor gosta de aplicar em determinada ação, por já ter tido o contato no passado, e acaba por alocar grande parte do seu portfólio neste ativo. Além de se expor ao risco desnecessariamente, este viés pode comprometer a diversificação e o desempenho da carteira como um todo.
7 – Viés de Status Quo
O viés de status quo é a tendência a optar por manter as coisas do jeito em que elas se encontram, seja por ausência de atitude ou por insistir em uma decisão já tomada, ainda que mudar represente uma melhor escolha. Neste caso, a mudança é percebida como algo ruim. Exemplo: imagine que você comprou uma ação, a vendeu com ganho de 30%, e posteriormente o ativo valorizou mais 50%.
Você vai sofrer mais por ele ter subido depois de efetuar a venda do que se você nunca o tivesse tido, o que não faz sentido. A grande preocupação em relação a este viés, é que a partir do momento no qual você começa a perceber a mudança como uma perda, você para de mudar, o que pode ser prejudicial aos investimentos.
Neste sentido, é extremamente importante identificar e controlar os vieses / tendências comportamentais, bem como manter o controle emocional nos momentos de pânico e euforia.
Cada investidor deve definir a sua estratégia com base no seu perfil de investimentos, aliado a processos de análise, controle de risco de portfólio, entre outras ferramentas para mitigação dos riscos e diversificação da carteira.