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Turbulência na Petrobras: Análise da Queda das Ações e Implicações Estratégicas

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Na quinta-feira, dia 7, ao fim do expediente, a Petrobras divulgou os resultados do último trimestre de 2023, resultando em uma reação negativa no pregão seguinte, na sexta-feira, dia 8. As ações preferenciais encerraram o dia com uma queda de 10,57%, movimentando cerca de R$8,35 bilhões, enquanto as ordinárias tiveram uma redução de 10,37%, movimentando R$2,99 bilhões. Isso levou a uma perda de valor de mercado de até R$72,7 bilhões, no momento mais crítico do dia. Neste artigo, vamos analisar os motivos por trás dessa forte reação do mercado.

Já na quinta-feira, por volta das 21h, o mercado começava a antever um cenário de correção devido ao atraso na divulgação dos resultados e dos dividendos da companhia, os quais eram vistos como o principal atrativo para investidores, em comparação com empresas similares no mercado internacional. Fontes do Broadcast indicaram que a estatal não pagaria dividendos extraordinários, levando as American Depositary Receipts (ADRs) da Petrobras a uma queda de 13% no after-market da NYSE. Às 22h06, a empresa confirmou os rumores ao divulgar seus resultados, propondo a distribuição de dividendos ordinários de R$14,2 bilhões e a destinação de R$43,9 bilhões para uma reserva estatutária.

Em relação aos números da companhia, a Petrobras apresentou um lucro de cerca de R$31 bilhões, uma queda anual de 28% e abaixo das expectativas de mercado de R$36,09 bi, assim como o resultado do EBITDA ajustado, que alcançou US$13,5 bilhões, representando uma redução de 1% em relação ao trimestre anterior. No entanto, esses indicadores foram afetados negativamente por cerca de US$1,5 bilhão em itens não recorrentes, a maioria relacionada a perdas no descomissionamento de áreas devolvidas ou abandonadas. A dívida bruta da empresa também aumentou, alcançando US$62,6 bilhões, aproximando-se do limite de US$65 bilhões, com 23% a curto prazo. O aumento de US$1,6 bilhão em relação ao trimestre anterior foi principalmente devido ao aumento dos arrendamentos em US$2,3 bilhões. A dívida líquida teve um pequeno aumento de 2%, atingindo US$44,7 bilhões, mas a alavancagem permanece controlada, com uma relação Dívida Líquida/EBITDA ajustada em 0,85x.

Outro fator de impacto foi o fato de que diversos bancos rebaixaram suas recomendações para as ações antes da abertura do mercado. O Bank of America, por exemplo, reduziu a recomendação de compra da Petrobras para neutra, ajustando o preço-alvo da PETR4 de R$ 48 para R$ 38, e para os ADRs, reduzindo de US$ 20,20 para US$ 16. Em seu comunicado, o banco destacou que a decisão de não pagar dividendos extraordinários aumenta a percepção de risco na empresa, especialmente em relação à influência do governo nas decisões de alocação de capital. Além disso, sugeriu que a Petrobras poderia estar mudando sua agenda para um foco maior em crescimento, com possíveis aumentos em despesas de capital, fusões e aquisições. O JP Morgan, em seu relatório, descreveu a decisão da Petrobras sobre os dividendos como a materialização do “pior cenário possível” para os investidores, o que representa uma quebra de confiança na liderança da empresa, indo contra suas próprias declarações anteriores. A interpretação agora é de que haverá distribuição apenas dos rendimentos mínimos. Um rendimento de dividendos de 8,1%, considerando apenas os previstos no estatuto, é muito inferior ao dos pares da Petrobras e tira totalmente a atratividade de suas ações, diz o banco, apesar de seus resultados robustos – mantendo a recomendação neutra para o ADR ON (PBR) com alvo em US$ 18,50.

O Goldman Sachs também considerou o movimento como negativo, esperando um pagamento extra de US$ 3 bilhões e, somente com os estatutários, a petroleira fica em linha com outras grandes globais, contudo com risco maior, perdendo a atratividade como alternativa de alocação de capital. Apesar disso, manteve a recomendação de compra para o ADR ON (PBR) a US$ 19,70. O Itaú BBA expressou preocupação com a estratégia de alocação de capital da Petrobras e observou que os proventos anunciados (US$ 2,9 bi) vieram abaixo das expectativas — o rendimento é de 2,7% sobre as ações, contra expectativa de 3,2%, resultando em uma recomendação neutra para a petroleira com um preço-alvo de R$ 38,00 para PETR4. O Santander rebaixou a recomendação para neutra, com preço-alvo de R$47,00 para as ações ordinárias. O Bradesco cortou a recomendação de compra para neutra e preço-alvo de PETR4 de R$48,00 para R$41,00. A XP mantém a recomendação de compra e preço alvo de R$36,70/ação (PETR4 e PETR3) e US$14,80/ADR (PBR/PBR.A) para o final de 2024. 

Durante o pregão da sexta-feira, as ações conseguiram reduzir suas perdas para um dígito durante a teleconferência de resultados, após executivos da companhia mencionarem a possibilidade de distribuir aos acionistas o montante destinado a reserva estatutária, caso haja uma decisão futura neste sentido. No entanto, no fechamento do pregão, as ações voltaram a cair após a divulgação pela agência Reuters de que a decisão do conselho de administração foi influenciada diretamente pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e que o governo está pressionando a empresa a canalizar os fundos que seriam destinados aos acionistas para investimentos. Além disso, o governo pretende alterar as regras relacionadas à utilização dos recursos da reserva estatutária pela Petrobras.

O presidente da companhia, Jean Paul Prates, defendeu a mudança na política de pagamento de proventos como forma de reforçar a agenda de investimentos da estatal, especialmente em iniciativas voltadas para a transição energética. No entanto, os analistas expressaram preocupações com essa estratégia, dada a história de iniciativas anteriores que resultaram em prejuízos significativos para a empresa. Notícias envolvendo a visita de integrantes da estatal à Venezuela para avaliação de possíveis oportunidades de negócios também aumentaram as incertezas sobre os investimentos futuros da companhia.

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A educação financeira é uma histórica lacuna no nosso modelo de ensino, mas felizmente existem dezenas de iniciativas que trabalham para fechar esse gap, e o projeto desta coluna é mais uma delas. Temos como missão traduzir para você aquele “Economês” frequente no mercado financeiro, além de desmistificar os paradigmas mais comuns do cotidiano de um investidor. Vamos tratar de temas atuais e como eles podem impactar diretamente a maneira como você investe. Vamos propor reflexões sobre o cenário e como tirar o melhor proveito dele. Nosso intuito é trazer um ponto de vista do lado de dentro do mercado, como cada tema é tratado e discutido na frenética mesa de operações – um mundo fascinante. Estaremos aqui todas as segundas-feiras, sempre tratando do que é relevante para você e seus investimentos. Juntos vamos fazer investimentos mais inteligentes!"

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A educação financeira é uma histórica lacuna no nosso modelo de ensino, mas felizmente existem dezenas de iniciativas que trabalham para fechar esse gap, e o projeto desta coluna é mais uma delas. Temos como missão traduzir para você aquele “Economês” frequente no mercado financeiro, além de desmistificar os paradigmas mais comuns do cotidiano de um investidor. Vamos tratar de temas atuais e como eles podem impactar diretamente a maneira como você investe. Vamos propor reflexões sobre o cenário e como tirar o melhor proveito dele. Nosso intuito é trazer um ponto de vista do lado de dentro do mercado, como cada tema é tratado e discutido na frenética mesa de operações – um mundo fascinante. Estaremos aqui todas as segundas-feiras, sempre tratando do que é relevante para você e seus investimentos. Juntos vamos fazer investimentos mais inteligentes!"
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