Não é novidade que o varejo brasileiro é um dos segmentos mais sensíveis na bolsa de valores. Vivemos em uma economia instável, onde os aumentos dos salários não acompanham a alta anual da inflação, assim como o endividamento populacional é extremamente elevado. Nesse cenário, é difícil existir poupança de seres superavitários, dado esse perfil praticamente não presente em nossa sociedade. Dito isto, em momento de desaceleração econômica e de alta de juros, o consumo em geral nesse segmento apresenta quedas robustas, visto que o consumidor não tem recursos para destinar a aquisição de itens não essências.
Se fizermos um comparativo com o mercado norte-americano, a economia segue crescendo mesmo em cenário de contração monetária, e isso ocorre justamente em função de a população ter reservas financeiras, e essa é uma das principais diferenças entre países desenvolvidos e países emergentes, como o Brasil. A concessão de crédito por parte das instituições financeiras está bastante restrita, visto que o aumento da inadimplência por parte da população disparou a níveis absurdos desde o período da pandemia, e esse é outro ponto que corrobora para o fraco desempenho do setor como um todo.
Fazendo um paralelo a essas informações julgo que a estratégia mais assertiva seja comprar ativos no momento que a economia está em ruínas, e vender quando o mercado está extremamente otimista. Em outras palavras é comprar quando todos estão desacreditados, quando a empresa está entregando resultados fracos, e vender quando a ação já acumulou ganhos e teve um turnaround de resultados, seja esse advindo de melhorias operacionais, seja via melhoria de cenário macroeconômico.
Diante do ciclo de queda de taxa de juros que estamos vivenciando na economia local, com o Banco Central projetando reduzir a Selic (taxa básica de juros da economia brasileira) para 9% a.a. ao final de 2024, podemos avaliar que alguns setores do varejo podem já ser impactados de forma positiva no curto prazo, uma vez que o mercado tende a antecipar esses movimentos.
Em um primeiro momento, poderá haver uma tendencia de consumo para setores com produtos de baixo valor agregado, dado que seu peso no bolso do consumidor é menor e não demanda tanto crédito, segmentos como vestuário, supermercados, decoração, itens de cama, mesa e banho. Os resultados dessas empresas devem melhorar antes, servindo como justificativa para uma apreciação rápida das ações. Posteriormente surgem espaços para o consumo de itens de maior valor agregado, como destaque para o segmento de itens de luxo, eletrodomésticos, eletrônicos. Nesse sentido, os resultados devem apresentar melhorias mais expressivas a partir do segundo semestre de 2024.
No entanto, é importante notar que os efeitos podem variar dependendo de outros fatores econômicos, como o crescimento do PIB, a inflação e a confiança do consumidor. Além disso, uma queda muito rápida ou drástica das taxas de juros pode ter efeitos colaterais negativos, como inflação descontrolada ou bolhas de ativos. Portanto, é crucial que as políticas monetárias sejam cuidadosamente gerenciadas para equilibrar os benefícios de curto prazo com os riscos de longo prazo.