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Em um mercado incerto, startups promovem demissões em massa em 2022

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A postura monetária mais apertada nas principais economias do mundo, resultado de uma pandemia global em 2020 e o início de uma guerra sem prazo para terminar na Ucrânia, começou a mostrar seus sintomas no mundo tech.  

De acordo com a plataforma layoffs.fyi, que monitora o clima de demissões nas startups, mais de 45 mil funcionários foram mandados embora desde o início deste ano em várias rodadas de demissões em massa em diversas companhias. 

No primeiro trimestre, os primeiros sinais de que as pressões inflacionárias globais provocariam posturas monetárias mais apertadas começaram a aparecer com a demissão de 9,8 mil pessoas nos primeiros três meses do ano. 

No segundo trimestre, porém, esse número acelerou para mais de 35 mil demissões, atingindo mais de 260 startups pelo mundo. 

Somado ao sentimento negativo trazido pela guerra e as pressões no mercado energético, as bolsas de valores globais despencaram no primeiro semestre do ano. O índice S&P 500 acumula perdas superiores a 20% desde o início de 2022, enquanto a Nasdaq perdeu 30% no mesmo período e companhias como Uber (UBER) e Netflix (NFLX) perdem 50% e 70%, respectivamente. 

É um momento de incerteza no mercado global, que antes aguardava os efeitos posteriores à pandemia de COVID-19 mas agora calcula os impactos severos da guerra.

 

Em um cenário desfavorável para a economia global, sofrem mais as startups com exposição quando o assunto é taxas de juros

É o caso da Coinbase, por exemplo, plataforma de criptomoedas que demitiu 18% da sua força de trabalho na metade de junho. Agora, a companhia opera com cerca de 5 mil funcionários. 

Para o CEO da companhia, Brian Armstrong, além dos efeitos que podem levar a economia norte-americana para uma recessão, o chamado “inverno cripto”, que vem derrubando o valor dos ativos digitais decentralizados, pode durar por mais tempo. 

Yelp, Uber, Better, Bybit, Compass, MasterClass, PayPal, Netflix e Robinhood também fazem parte da extensa lista de startups que decidiram pelo corte de parte de suas forças de trabalho, na medida em que os sentimentos do mercado apontam para uma desaceleração econômica mundial. 

Nesta semana, a Tesla, de Elon Musk, demitiu 200 pessoas do seu setor de automação. Há poucas semanas atrás, o próprio CEO admitiu ter um “sentimento muito ruim” com o mercado, anunciando que a companhia pretende desacelerar as contratações. 

Em maio, a YCombinator, a maior aceleradora do mundo, enviou um email para seus fundadores dizendo para “esperar pelo pior”. 

Os impactos também são sentidos no cenário brasileiro. Segundo dados da Distrito, o volume de aportes de startups caiu mais que a metade no mês de maio. No ano passado, a captação havia sido de US$ 772,6 milhões. No mês passado, foi de US$ 298,5 milhões. 

No ano, até maio, o aporte nas startups brasileira soma US$ 2,6 bilhões, sendo que havia atingido US$ 3,2 bilhões no mesmo período do ano passado. 

Startups brasileiras que anunciaram cortes no seu contingente de trabalho neste ano incluem a Loft, Favo, Facily, QuintoAndar, Mercado Bitcoin e Vtex. 

O mercado ainda não vê um fim nessa intensa onda de demissões e planos de reestruturação. Diferente dos impactos de 2020, esse novo momento das startups acontece após várias companhias tech registrarem números recordes e novos unicórnios dentro do período de dois anos. 


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Como chegamos aqui? 

“O mundo viveu um ciclo relativamente longo de estímulos monetários, onde os bancos centrais do mundo inteiro de forma coordenada aumentaram consideravelmente a liquidez das suas economias através de impressão de dinheiro, auxílios sociais e taxa de juros próximas a zero” afirma Vinicius Teixeira, sócio e head da área de Growth na Messem Investimentos. 

Para ele, esse ciclo de estímulos e juros baixíssimos levaram os investidores a procurarem rentabilidade em ativos de maiores risco, como as criptomoedas e os investimentos em startups via Venture Capital (VC). 

“Essa busca massiva gerou uma super liquidez, onde essas startups conseguiam levantar recursos com muita facilidade”, afirma ele. “Com recurso abundante e de fácil acesso, estratégias popularmente conhecidas como cashburn [rápido crescimento com prejuízos iniciais] popularizaram”. 

O problema é que o momento agora é outro. Com o início da guerra na Ucrânia, pressões intensas no mercado energético global e problemas na cadeia de distribuição após a implementação da política de ‘Covid Zero’ na China, as economias globais optaram por maiores apertos monetários. 

Nos Estados Unidos, três ajustes, um de 0,25 p.p., outro de 0,50 p.p. e um de 75 p.p., já marcaram o início da curva de aumentos nas taxas variáveis de juros para tentar desacelerar a inflação, que é a maior em 40 anos. Na semana passada, o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, admitiu pela primeira vez que as pressões na alta dos preços, somadas aos ajustes nas taxas, podem desencadear em uma recessão no ano que vem. 

O que se monta na indústria de startups hoje é um reajuste de expectativas, com menos focos em estratégias de Blitzcaling e mais valorização da geração de caixa o mais cedo possível. Um balde de água fria após um ciclo favorável para a ascensão de startups como Uber e Airbnb. 

“Vamos voltar a ouvir aquele ditado muito popular em momentos de retração: Cash is king”, aponta Vinícius Teixeira. “Estamos entrando em um ciclo em que, quem tem caixa é rei, e assim seguimos com a economia buscando o ajuste após uma overdose de otimismo e irresponsabilidade fiscal”. 

Para ele, como todo início de ciclo, todos deverão se adaptar: 

“Ainda veremos muitas startups e empresas queridinhas do mercado fazendo demissões, reavaliando modelo e buscando se adaptar ao novo ciclo econômico, onde ou você se adapta ou você morre”, aponta. 

Juan Tasso - Smart Money

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