De acordo com dados divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística e Censos (Indec), o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) anual da Argentina atingiu 58% em abril, a maior taxa desde 1992.
Na variação mensal, a inflação do país aumentou 6,2% em abril em relação a março, uma desaceleração frente à alta de 6,7% no mês anterior.
Os setores que mais impactaram a inflação no mês de abril foram os de comida e bebidas (5,9%), saúde (6,4%), restaurantes e hotéis (7,3%) e roupas e calçados (9,9%).
Com uma economia caminhando para a deterioração da moeda, a praça de Maio de Buenos Aires se encheu de manifestantes nesta quinta-feira (12), com cartazes que cobram melhores condições salariais e fim da fome.
Hoje, a Argentina possui a segunda maior taxa inflacionária da América do Sul, superada apenas pela Venezuela. A meta do governo de Alberto Fernández para o Fundo Monetário Internacional (FMI) é de uma inflação de 38% a 48% ao término de 2022.
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Para economistas, a escalada inflacionária da Argentina está diretamente relacionada à ampliação de gastos públicos do governo no ano passado para tentar garantir as eleições legislativas em outubro.
Até mesmo considerando uma das cargas tributárias mais intensas do mundo, a arrecadação não é o suficiente para bancar os gastos do governo. Por isso, a Argentina na última década entrou no ciclo vicioso de endividamento e emissão monetária, que prejudicam profundamente a economia.
Gastos exorbitantes do governo, aliás, já eram marcantes na administração anterior de Mauricio Macri, que recorreu às emissões de dívidas ao invés de imprimir dinheiro e encerrou o mandato com uma inflação de 53,83%.
Com a pandemia e uma dívida pesando nas costas do governo argentino, a administração de Fernández recorreu à emissão da moeda para tentar aliviar a crise econômica causada pela COVID-19.
Mesmo com a injeção de dinheiro feita no ano passado com olhos voltados para as eleições, os efeitos inflacionários não foram sentidos de imediato. O problema é que a guerra na Ucrânia, que atinge o mercado energético e de alimentos, agravou ainda mais a situação.
Recentemente, o governo também aprovou o congelamento de itens básicos para tentar conter a alta dos preços e proteger a população mais carente. A estratégia populista, porém, parece não ter funcionado.
Por fim, a briga política interna de Fernández com sua vice, Cristina Kirchner, enviaa uma mensagem forte de instabilidade para o mercado. Kirchner foi contra o acordo assinado pelo presidente com o Fundo Monetário Internacional (FMI) que prevê, entre outras coisas, redução de subsídios elétricos e um novo regime de pagamento de US$ 44 bilhões em dívidas.