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Déficit comercial da UE é um sinal de alerta para a inflação global, entenda a situação

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Na segunda-feira (16), a agência Eurostat divulgou os dados da balança comercial da zona do euro e da União Europeia (UE) para março 2022, bem como os dados do primeiro trimestre do ano. Os 19 países que usam a moeda pan-europeia registraram um déficit comercial recorde de € 16,4 bilhões, enquanto a União Europeia como um todo registrou um déficit de € 27,7 bilhões.


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Balança comercial da zona do euro tem déficit recorde em março


O relatório do Gabinete de Estatísticas da União Europeia responsabiliza principalmente o aumento nos preços de commodities de energia pelo resultado negativo divulgado. Não por acaso, o valor das importações vindas de Noruega e Rússia – os principais fornecedores de gás natural para a região – mais do que dobrou do primeiro trimestre de 2021 para o mesmo período em 2022. 

Boa parte dessa pressão vem do conflito entre Rússia e Ucrânia no leste europeu, iniciado no dia 24 de fevereiro quando o presidente russo Vladimir Putin anunciou o início de uma operação militar no país vizinho. O conflito entre duas das maiores fornecedoras de commodities do mundo causou uma série de impactos na cadeia global de distribuição de matérias-primas. 

O gás natural russo, por exemplo, correspondia em fevereiro a 40% da matriz energética da Europa, chegando a 60% em alguns países. Na véspera do início do conflito, em 23 de fevereiro, o gás natural estava cotado a US$ 4,84 por MBTU, enquanto ontem a commodity encerrou o dia cotada em US$ 8,27 por MBTU nesta terça. Nesse período de menos de três meses, o gás natural saltou 70,86% no mercado internacional. 

Gustavo Bertotti, economista da área de renda variável na Messem Investimentos, explica que o avanço do gás pressiona a economia europeia e impulsiona a inflação. “Você tem uma Europa que é dependente da importação de gás e ela não tem saída, por enquanto. O maior ofertante é a Rússia, então a tendência é um aumento de preços e isso leva a um aumento de preços generalizado”, explica. 

Segundo Gustavo, a oferta de gás e outras commodities energéticas se encontra muito pressionada no atual contexto geopolítico. Mais do que isso, o preço das matérias-primas em alta e a consequente inflação colocam em xeque os planos da União Europeia de apertar ainda mais as sanções contra a Rússia por conta do conflito no leste europeu. 

No dia 4 de maio, a presidente da Comissão Europeia Ursula von der Leyen anunciou o mais recente pacote de sanções a Moscou. A maior novidade do comunicado foi a divulgação de um plano para zerar as importações de petróleo russo até o fim de 2022. 

“Ela (Ursula von der Leyen) deu uma declaração onde afirmou que deseja zerar as importações de petróleo cru da Rússia em 6 meses e dos derivados de petróleo até o final do ano. Como vai fazer isso? Você tem uma inflação de 7,4% na Alemanha, a inflação na zona do euro vai subir também”, aponta. 

Dados divulgados na manhã desta quarta-feira (18) confirmam a visão inflação da zona do euro chegou a 1,0% no mês de abril e chegou a um acumulado de 7,4% nos últimos 12 meses. No Reino Unido, o Índice de Preços ao Consumidor avançou 2,5% no mês e chegou a um acumulado de 9,0%. 

O economista aponta ainda que a alta do gás natural tem uma série de complicações para a cadeia global, inclusive para países que não utilizam o gás russo – como é o caso do Brasil. “Com o preço subindo, você pode – dependendo do segmento, substituir essa fonte de energia por outra. Pode, por exemplo, demandar mais carvão, então todas as commodities ligadas a energia tendem a se valorizar”. 

O petróleo, por exemplo, não demorou muito a sentir os impactos do conflito no leste europeu. No dia 23 de fevereiro, o barril de Brent estava cotado a US$ 96,75, saltando para US$ 113,80 nesta terça-feira (+17,62%). Aqui no Brasil, podemos ver os efeitos desse aumento principalmente nos combustíveis.


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Petrobras reajusta o preço do diesel em 8,87% e gasolina se aproxima de R$ 9


Na semana passada, por exemplo, a Petrobras anunciou um reajuste no preço do diesel nas refinarias. Segundo a petroleira estatal, o aumento veio na esteira da escassez do combustível, que fez o mesmo se valorizar mais do que o petróleo no mercado. O novo reajuste fez com que o litro do diesel ultrapassasse o valor do litro da gasolina em algumas cidades do Brasil. 

Desde o início do mês, a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) reportou duas vezes que o preço da gasolina bateu recordes históricos no país. As recentes altas nos preços dos combustíveis impulsionaram o avanço nos preços da categoria Transportes, principal fator de pressão no IPCA – índice oficial da inflação brasileira – em março e abril. 

E a inflação global, para Gustavo, não tende a ser passageira. Nos Estados Unidos, o Índice de Preços ao Consumidor (CPI, na sigla em inglês) voltou a surpreender nos dados de abril e mostra que a inflação global é persistente. Enquanto isso, ele reforça, a União Europeia ainda não elevou as taxas de juros para combater os avanços nos preços. 

“Europa não mexeu em juros ainda. O aumento de juros precisa acontecer, e você não aumento os juros em um mês e o problema (inflação) vai embora no mês seguinte. Eu vejo que a Europa está muito atrasada nisso (política monetária)”, explica o economista. “Eu diria que esse momento não é nada favorável e para a inflação global. A tendência é que os preços vão continuar pressionados e com uma tendência de alta”. 

Guilherme Guerreiro

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