A manhã da terça-feira (08), que parecia ser um dia comum, foi marcada por um dos eventos mais inusitados do mundo das criptomoedas. Em Nova Iorque, o Departamento de Justiça dos Estados Unidos mandava um mandado de prisão para Ilya Lichtenstein, 34 anos, e sua esposa Heather Morgan, de 31 anos.
Ambos são acusados de lavarem mais de US$ 4,6 bilhões em Bitcoin em 2016, quando um ataque hacker atingiu os sistemas do aplicativo Bitfinex, de Hong Kong.
“A prisão de hoje, a maior do Departamento até então, nos mostra que criptomoedas não são um porto seguro para criminosos”, disse Lisa Monaco, Procuradora-Geral.
O Departamento de Justiça disse ter recuperado 119.754 bitcoins encontrados em diversas carteiras virtuais que o casal possuía. Ambos estão encarando uma sentença que pode chegar a 20 anos.
O DoJ (Department of Justice) ainda não sabe todos os detalhes acerca do ataque hacker de 2016, mas há poucas dúvidas sobre o envolvimento do casal no esquema.
Além de ser um dos maiores casos de hacking da história do mundo crypto, o acontecimento emblemático é acompanhado da presença nada ordinária do casal nas suas redes sociais.
Razzlekhan
Inicialmente, Heather Morgan não publicava muitas coisas em suas redes, como uma conta no Twitter que ela possuía. Em 2019, porém, as coisas começaram a mudar.
Neste ano, Morgan começou a escrever para a revista Forbes, publicando textos sobre casos de sucesso no mundo econômico. Naquela época, ela ainda realizou palestras sobre como a engenharia social pode levar as pessoas para onde elas quiserem.
Foi neste ano também que Morgan apostou em seus dotes musicais e lançou um clipe de rap no YouTube sob o nome artístico de Razzlekhan.
“Rapper”, economista, jornalista, CEO e escritora. Esses são alguns dos adjetivos que Morgan atribuía a si mesma no seu clipe musical lançado no YouTube.
Ela também gostava de ser chamada de “Crocodilo infame de Wall Street”, apelido que ela mesmo se deu. Seu esposo, que não tinha muita presença em redes sociais, era conhecido como “Holandês”, além de ser “investidor anjo” em inúmeras empresas do setor de tecnologia e startups.
Ambos são conhecidos como o “Bonnie and Clyde” do mundo das criptomoedas. Para deixar tudo ainda mais inusitado, Morgan também possuía uma conta bastante ativa no TikTok:
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O esquema de lavagem
As qualidades de “rapper” de Razzlekhan, que são um pouco duvidosas, não refletiam no complexo sistema de lavagem de dinheiro que ela e seu esposo executaram durante o ataque hacker de 2016.
Na verdade, nem mesmo o Departamento de Justiça soube definir muito bem o que exatamente o casal fez para conseguir roubar 119.754 bitcoins. Pior ainda, não sabem exatamente quem fez o roubo.
De acordo com o Departamento de Justiça, o casal usava técnicas como:
- Uso de identidades ficcionais para a criação de contas;
- Uso de programas de computador para automatizar transações;
- Esquema de lavagem que envolvia várias transações que aconteciam em um curto espaço de tempo;
- Depósito dos recursos roubados em contas presentes em várias corretoras e mercados “darknets”, e depois retirada dos recursos.
O que se sabe, porém, é que o casal realizou várias transações via AlphaBay, mercado clandestino na deep web que só era acessado através de navegadores especiais, como o Tor. O serviço deixou de existir em 2017.
Tudo indica que os passos foram feitos para esconder a identidade do casal da maneira mais anônima possível. Segundo a Procuradora-Geral Lisa Monaco, porém, isso não foi o suficiente para que a polícia conseguisse identificar os donos das transações.
Barulho nas redes sociais e silêncio na corte
O casal foi à corte ainda na terça-feira (08), encontro que foi marcado pelo silêncio total da dupla. No lugar deles, falaram os advogados.
O juiz nova-iorquino encarregado do caso definiu uma fiança de US$ 3 milhões Morgan e US$ 5 milhões para seu esposo, Lichtenstein.
Como comentado anteriormente, as investigações não afirmaram se o casal foi inteiramente responsável pelo ataque hacker em 2016, mas não há dúvidas sobre a enorme presença de bitcoins roubados nas carteiras virtuais da dupla.
A plataforma Bitfinex comemorou a recuperação dos bitcoins e disse que está colaborando com as investigações.
“Nós agradecemos a dedicação e árduo trabalho feito pelo Departamento de Justiça que levou ao sucesso, e nós continuaremos a apoiar seus trabalhos”, diz um comunicado da plataforma.
