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Para head de Renda Variável da Messem, o Fed terá um desafio pela frente em meio a uma inflação disseminada

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A última divulgação do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) dos Estados Unidos enviou um novo alerta para o mercado financeiro. Isso porque os dados surpreenderam as expectativas, registando alta anual de 9,1% em junho, mas não assustaram os analistas, que esperavam uma forte alta nos preços. 

A maior taxa desde 1981 foi impactada principalmente pelas pressões no mercado energético, com a alta da gasolina chegando a 11,2% no período. É esperada uma certa desaceleração em julho, mas, para Gustavo Bertotti, economista e head de renda variável na Messem Investimentos, o problema não acaba por aí. 

Para o head de RV, a inflação dos Estados Unidos, que é de oferta, está disseminada e ainda não chegou no pico. O que se monta, portanto, é um cenário de intensos desafios para o Federal Reserve (Fed) para o segundo semestre do ano. 

“Fed terá um trabalho maior pela frente porque a inflação é disseminada”, afirma Bertotti. “Já tínhamos expectativas de um CPI (Core Price Index) alto, tanto quanto os dados do payroll”. 

De acordo com dados do payroll, os EUA criaram 372 mil novas vagas em junho, ficando acima das expectativas. Dados abaixo da geração de emprego de maio, mas que indicam que a esperada intensa desaceleração do mercado de trabalho em um cenário de possível recessão ainda não aconteceu. 

Para o head de RV da Messem, porém, em um cenário de possível recessão, o mercado de trabalho pode “deteriorar”. Embora a taxa de salários do país tenha aumentado no último mês, por conta dos efeitos da inflação, a média real por hora de trabalho está caindo no ritmo mais alto em 40 anos. 

Hoje, o temor de uma recessão é provocado pelos altos dados inflacionários do país, bem como a corrida do Fed com as taxas de juros. Três ajustes já marcaram o início da curva, um de 0,25% p.p., outro de 0,50 p.p. e o último de 0,75 p.p. 

De acordo com a última ata divulgada pelo Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC), o último reajuste, de 0,75 p.p., foi feito de maneira “atípica”, e que a tendência não deve se manter ao término do ano. 

Para Bertotti, porém, o tom da última ata ficou um pouco aquém da realidade dos dados, e o ajuste de 0,50 p.p. promovido em março já deveria ter apresentado um tom mais agressivo. Para ele, existe a possibilidade de mais dois ajustes de 75 pontos-base nas taxas variáveis. 

“As apostas mudaram e o mercado converge para um ajuste de 0,75 p.p. em julho e provavelmente seguirá para outro ajuste da mesma magnitude em agosto”, diz ele. “O próximo comunicado do Fed precisa ser mais forte. Os juros deverão ser acelerados a porta precisará ficar aberta”. 

Para Bertotti, a temporada de resultados das empresas será um bom indicador de avaliação dos impactos inflacionárias nas companhias. Além disso, é importante considerar os efeitos de um mercado chinês que ainda passa por problemas relacionados aos lockdowns e mercado imobiliário. 

Os contratos futuros de minério de ferro na Bolsa de Singapura já caíram para menos de US$ 100 a tonelada, o menor valor em oito meses, com o setor de infraestrutura da China registrando uma demanda fraca. É um indicativo de que o pacote de estímulos anunciado pelo governo chinês para mitigar os efeitos econômicos da política de ‘Covid Zero’ ainda não gerou os resultados desejados na economia. 

A demanda fraca na China pode impactar inclusive a economia brasileira, que no ano passado foi a 7ª maior exportadora para o dragão vermelho. 

Na Europa, o mercado energético é o principal ponto de atenção, com os setores econômicos acompanhando as retaliações promovidas pela Gazprom na Alemanha e o gás natural registrando o mesmo valor do início do conflito na Ucrânia. 

“Temos uma Europa atrasada nas suas políticas monetárias e um Euro depreciando em relação ao Dólar”, afirma Bertotti. De acordo com sinalizações do Banco Central Europeu (BCE), as taxas da Zona do Euro, que estão zeradas hoje, passarão por um ajuste de 0,50 p.p. em julho, seguido por um provável ajuste de maior magnitude em setembro. 

Juan Tasso - Smart Money

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