No dia 02 de agosto, o Comitê de Política Monetária (COPOM) do Banco Central do Brasil optou por reduzir a taxa Selic, a taxa básica de juros da economia, de 13,75% para 13,25% ao ano. Essa decisão de corte dos juros era amplamente esperada pelo mercado, devido à melhora do quadro inflacionário e à ancoragem das expectativas em torno da meta de inflação estabelecida em 3,25% para 2023, com uma variação admitida entre 1,75% e 4,75%. Notavelmente, o IPCA, Índice de Preços ao Consumidor Amplo, registrou um aumento de 3,16% nos últimos 12 meses. Essa redução de juros representa o primeiro corte desde agosto de 2020, durante a pandemia, e indica o início de um novo ciclo de política monetária expansionista no país.
Na economia real, é evidente que juros mais baixos têm impactos positivos para as empresas. Eles melhoram a saúde financeira das companhias com maior alavancagem e que possuem necessidade de novos financiamentos, reduzem o custo de capital e aumentam os lucros ao diminuir as despesas financeiras. Esses benefícios também se aplicam às ações das empresas negociadas em bolsa e a ativos de risco, que tendem a ter seus preços valorizados. Diante desse cenário, surge a questão: o que podemos esperar para a bolsa de valores neste ciclo?
Para responder a essa pergunta, podemos analisar o comportamento passado do Ibovespa. Um estudo recente divulgado pelos estrategistas da XP, Fernando Ferreira, Jennie Li e Rebecca Nossig, demonstrou que nos últimos 20 anos, em seis ciclos de cortes da taxa Selic, cinco foram caracterizados pelo desempenho positivo da Bolsa, com uma média de rentabilidade do Ibovespa de 47%, quase três vezes superior ao desempenho médio do CDI durante esses mesmos períodos. Alguns podem argumentar que o mercado sempre antecipa esses cortes e que os ativos já estariam precificados, dado que o Ibovespa subiu de 98 mil pontos em março deste ano para 120 mil pontos no início de agosto. No entanto, historicamente, os maiores retornos da bolsa ocorreram em períodos de cortes mais agressivos de juros. Em média, para cada 1% de corte na Selic, o Ibovespa apresentou retornos positivos de 7,2%.
Ao longo do ano de 2023, teremos três reuniões do COPOM para definir a taxa Selic: 19 e 20 de setembro, 31 de outubro e 1° de novembro, e 12 e 13 de dezembro. Há uma grande expectativa de queda de 0,5% na taxa em cada reunião, o que levaria a taxa Selic a cerca de 11,75% até o final do ano. Considerando a atual pontuação do Ibovespa em torno de 120 mil pontos e o histórico de crescimento de 7,2% para cada ponto percentual de queda na Selic, estima-se que o índice possa alcançar aproximadamente 133 mil pontos até o final do ano. Coincidentemente, essa projeção se alinha com a estimativa de valor justo para o Ibovespa feita pela XP.
Com base nos fatos acima mencionados, e considerando que o Brasil possui uma posição sólida em relação a outros emergentes em termos de crédito e geopolítica, foi o primeiro grande banco central a iniciar um ciclo de corte de juros, negocia a níveis de valuation atrativos e tem atraído fluxo de investimentos estrangeiros, juntamente com a recente retomada do fluxo doméstico, acredito que os próximos anos apresentarão um cenário bastante positivo para aqueles que já estão posicionados ou procuram oportunidades em renda variável. Dentre os setores que mais devem se beneficiar com a queda de juros, destacam-se papel e celulose, mineração e siderurgia, transportes, bens de capital, serviços públicos (utilities) e, em um momento posterior com Selic abaixo de dois dígitos, o varejo, especialmente para as small caps, que são empresas com valor de mercado de até R$10 bilhões e são mais sensíveis às variações nas taxas de juros.